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Posts Tagged ‘Criticismo Bíblico’

por Jaco Gericke

Assim como não é possível argumentar a favor da existência de Zeus através de especulações filosóficas sofisticadas, igualmente não se pode faze-lo em relação a Deus, também conhecido como Javé. Todavia, filósofos da religião cristãos que não mais acreditam em Javé conforme retratado no Antigo Testamento ainda são capazes de se apresentarem como crentes em “Deus”, uma versão atualizada da antiga divindade tribal multifacetada. Eles projetam as mais recentes metáforas tecnomórficas sobre a realidade; e lançando mão de um jargão sofisticado e uma abordagem genérica conferem às suas idéias um aspecto intimidador e quase respeitável. Mas o fato é que a filosofia da religião cristã por inteiro, seja ela filosofia analítica fundamentalista ou a mais pós-moderna versão da a/teologia continental, não passa de mitologia reconstrutiva. Tal discurso parece funcionar porque as pessoas se esquecem que Deus costumava ser Javé. Elas podem igualmemente tentar reabilitar qualquer antigo deus tribal, abrigando-o sob o guarda-chuva universal atualmente abraangido pelo conceito de divindade. Assim, qualquer filosofia da religião que presuma que o deus sobre o qual discorre seja em qualquer sentido basicamente a mesma realidade divina sobre a qual se fala no Antigo Testamento encontra-se em sérios apuros.

Em primeiro lugar, as concepções de Javé mantidas pela maioria dos filósofos da religião cristãos tendem a ser radicalmente anacrônicas e correspondem mais ao proverbial “Deus dos Filósofos” (Tomás de Aquino em particular) do que a qualquer versão de Javé representada na antiga religião israelita. Isto significa que nem mesmo os próprios filósofos cristãos acreditam nas concepções “bíblicas” pré-filosóficas de Javé, a crença em quem supõe-se ser apropriadamente básica. Suas noções sublimes de Deus em termos de “Simplicidade Divina”, “Grandeza Máxima”, e “Teologia do Ser Perfeito” são completamente alheias a várias caracterizações de Javé na narrativa bíblica (por exemplo, Gen. 18). Isto quer dizer que debates sobre o poder e o conhecimento de Deus e sua relação com o mal (etc.), sejam lá quais forem seus méritos lógicos, convenientemente ignoram o fato de que existem vários textos bíblicos que os contradizem (e que exibem representações da divindade em que os filósofos cristãos não acreditam).

O problema do mal é um pseudo-problema em vários textos do Antigo Testamento, em que Javé não era nem onipotente nem onibenevolente. Além disso, a capacidade de fazer o mal no sentido de ser destrutivo era de fato uma propriedade enaltecedora no teísmo antigo. Javé é poderoso exatamente porque ele pode fazer o mal quando deseja, seja ele natural, moral ou metafísico (veja Exod. 4:11; Lam. 3:38; Isa. 45:7; Amós 3:6; Ecles. 7:13–14; etc.). Os crentes de antigamente não eram tão mimados como os de hoje que acreditam que um deus tem que ser perfeitamente bom (leia-se “com uma interface amigável para o usuário”) para ser digno de adoração. O que tornava um deus divino era seu grande poder (o que não é o mesmo que onipotência), não sua prestação de serviços focada no cliente, seus valores familiares ou sua consideração pelos direitos humanos.

O segundo problema resulta do primeiro: que tipo de Deus é esse em quem a crença é garantida de acordo com a filosofia da religião cristã? É inútil dizer  que a crença em Deus é justificada a menos que se possa especificar quais são os supostos conteúdos das crenças acerca de Deus (e quem é este deus em quem alguém acredita basicamente). Mas esta filosofia da religião cristã é irremediavelmente solapada por seu fracasso em reconhecer o fato de que está cometendo a falácia do essencialismo. Esta falácia perpassa os problemas filosóficos colocados pelo pluralismo teológico no Antigo Testamento e as mudanças diacrônicas (leia-se: “revisões”) nas crenças acerca de Javé na história da religião israelita. Em diversos pontos de confluência em seus argumentos a filosofia da religião cristã parece beatificamente ignorante de que não existe tal coisa como a perspectiva “bíblica” sobre Deus. De modo que se é no Deus “bíblico” em quem supostamente se deve acreditar, a maioria dos teólogos do Antigo Testamento gostaria de saber “em qual de suas versões?” (ou, “em qual de suas interpretações?”).

Um terceiro problema concerne a uma outra maneira ainda em que a filosofia da religião cristã fracassa em aplicar as formas de verificação próprias do Antigo Testamento. Colocando de lado a possibilidade do pluralismo, que pode erguer sua carranca medonha mais uma vez (por exemplo, nas incomensuráveis teologias religiosas de Daniel e do Eclesiastes), o fato é que é errado assumir que o Antigo Testamento não é evidencialista. Ao contrário, existem razões significativas para acreditar que um tipo primitivo de evidencialismo seria de fato a epistemologia padrão presumida na antiga religião israelita dada a natureza de várias hipóteses pre-filosóficas nas narrativas bíblicas. De modo que pode-se dizer que toda a questão dos “milagres” (sinais) e revelações através de teofanias, audição de vozes, sonhos, adivinhações e histórias pressupõe um evidencialismo (veja a reiterada fórmula “de modo que eles possam saber…”). Os filósofos da religião irão negar que seja possível constatar a existência de Deus neste sentido empírico, e não obstante, de acordo com o Antigo Testamento, o próprio Javé admitiu esta possibilidade.

Afinal, de todas as epistemologias religiosas concebíveis, é difícil imaginar que o profeta Elias, na narrativa em que enfrenta os profetas de Baal no Monte Carmelo, estivesse endossando qualquer coisa remotamente similar às alegações da filosofia da religião cristã de que não é necessário provar nada empiricamente (veja 1 Reis 18). Se isso não é um exemplo de evidencialismo no Antigo Testamento, então o que seria? Os cristãos podem ter suas próprias razões para explicar porque estas coisas não mais acontecem e pelas quais nenhum filósofo da religião consentirá em participar de uma competição no Monte Carmelo. Mas o fato é que os filósofos da religião cristãos, sejam eles fundamentalistas e analíticos ou pós-modernos e continentais, todos adoram a racionalização dogmática mais do que a epistemologia bíblica. Mais uma vez, isto mostra que nem mesmo os filósofos da religião cristãos acreditam realmente em Javé. Eles também são ateus em relação à divindade bíblica.

A partir disso vemos por que a crença em Javé é para ambos ateus e cristãos tão impossível quando a crença em Zeus. Pode-se muito bem sugerir “apenas acredite na Bíblia!” ou em qualquer outro deus antigo. Mas poucos filósofos cristãos alguma vez se perguntaram por que é o caso que o principal desejo de um deus é que suas criaturas concordem que ele exista, dentre todas as coisas com as quais alguém poderia, em tese, se preocupar – e ainda assim fazer tão pouco para torna-la possível. Que um deus precise se ocultar e que a fé seja necessária para tornar um relacionamento possível é simplesmente uma ridícula noção não-bíblica. Moisés alegadamente tanto viu como acreditou em Javé, e eles mantiveram um relacionamento exemplar (para os padrões bíblicos). Assim, qual é o problema com a intimidade cara a cara numa base diária com cada ser humano, numa época em que o ateísmo é mais popular do que nunca? Como Voltaire disse antes de Nietzsche, a única desculpa aceitável para Deus é não existir.

Em outras palavras, foi a consciência histórica que levou os crentes a reinterpretar as crenças bíblicas para conferir-lhes um aspecto respeitável e que leva os ateus contemporâneos a ver por que ninguém pode acreditar em Javé mais do que eles acreditam em Zeus. Simplesmente não podemos imaginar que a realidade seja uma estrutura planejada em que uma entidade demasiado humana, embora superior, detém todo o poder, em que “a força diz o que é certo” – Deus pode fazer o que ele deseja porque ele é Deus, exatamente a mesma imoralidade que os religiosos imputam aos ateus – em que o sentido de sua existência é criar seres débeis, frágeis e mortais para servi-lo e dizer-lhe o quão maravilhoso ele é por toda a eternidade. A devoção religiosa é,  pura e simplesmente, a subserviência bajulatória ao poder. De qualquer maneira, não é o caso que sejamos rebeldes e não queiramos a priori acreditar em um deus; ocorre simplesmente que o conceito inteiro da realidade divina conforme construído pelos humanos no sentido bíblico é tão absurdo e tão obviamente uma projeção de humanos sinceramente iludidos que concebiam o funcionamento do cosmos análogo ao de uma sociedade humana antiga, que não seríamos capazes de realmente acreditar nem mesmo se tentássemos!

Esta é a razão pela qual a teologia e a filosofia da religião e os argumentos para a existência de Deus tornaram-se necessários – para ocultar o absurdo e conferir-lhe uma aparência convicente. Mas desde quando a realidade precisa convencer qualquer um? Se o mundo fosse realmente daquela maneira, seria tão desnecessário argumentar por sua facticidade quanto o é argumentar pela existência do mundo biológico. O apelo ao mau funcionamento epistemológico nos descrentes é tão pouco convincente quanto dizer que a razão pela qual achamos difícil acreditar em Zeus é nossa falta de intuição espiritual.

Após dois mil anos o sistema cristão cobriu quase tudo, e alguns crentes acreditam piamente que a apologética oferece respostas para tudo. Para perceber como o truque foi feito – para ver o revestimento metálico do espelho e as cordas das marionetes – basta permitir que a filosofia da religião cristã seja julgada pela história da religião israelita. O melhor argumento contra qualquer dogma cristão contemporâneo é sua própria história remontando à e se originando da própria Bíblia. As reinterpretações dos próprios cristãos nos mostram que mesmo o “crente” mais fundamentalista é realmente um ateu quando se trata de Javé, e o mais “bíblico” dos crentes não é tão bíblico quanto pensa. No fim a teologia cristã foi posta abaixo pela ética cristã; a crença foi destruída por sua própria moralidade, que exige a busca da verdade.

Angustiado estará o crente quando no fim vier a perceber que precisa escolher entre Deus e a verdade. É o tipo de experiência de “choque com a realidade” associada a filmes como Matrix ou O Show de Truman. Mas você precisa ver com seus próprios olhos para perceber como isso foi a sinuca perfeita, a dupla lealdade definitiva para qualquer pessoa crescendo numa cultura religiosa contemporânea. Infelizmente, como os próprios célebres personagens bíblicos, os crentes de hoje em dia não desperdiçam seu tempo estudando seriamente a Bíblia. Os livros mais populares sobre o Antigo Testamento são tira-gostos espirituais, guloseimas para o cérebro, se você desejar. E quando confrontados com a questão de por que os ateus se importam com a Bíblia se eles não acreditam nela, bem, talvez seja pela mesma razão que os cristãos se preocupam com os pagãos: porque as pessoas se preocupam com que outras pessoas acreditam ser a verdade e sobre o fato de que existem tantas pessoas bem-intencionadas inconscientemente propensas a iludirem tanto a si próprias como ao resto da humanidade.

Conclusão

Em certo sentido, a entidade chamada “Deus” é como um troll da Internet criado num fórum aberto ao público – uma vez que você se torna ciente do agente por trás do personagem, tal conhecimento muda tudo sobre se podemos ou não fazer com que acreditemos que “ele” existe. Não há realmente nada para refutar, e não precisamos mostrar que algum deus, seja lá qual for sua descrição, não existe. Tudo o que precisamos fazer é mostrar que as descrições de Javé não possuem nenhuma contraparte fora das fábulas bíblicas. Pois se Javé conforme retratado não é real, como poderia “Javé” em si não obstante existir? Se o deus do Antigo Testamento – que é o Deus de Jesus – não existe, como poderia o Deus do Novo Testamento ainda assim existir? E se o Deus do Novo Testamento não é real, não é este o fim das pretensões do Cristianismo à realidade?

Portanto, não é necessário nos sentirmos intimidados pelos filósofos da religião cristãos que precisam recalcar o fato de que seus sofisticados argumentos sobre um Deus supostamente respeitável ignoram a história da religião israelita. A própria biografia do deus é-lhes um constrangimento colossal. Eles próprios não mais acreditam em Javé, e hoje em dia “Deus” não passa de um ídolo idealizado, criado à imagem e semelhança das mais recentes metáforas tecnológicas projetadas sobre o cosmos. Como Javé nunca foi um deus vivo, “Deus” está, de fato, morto.

No fim, então, parece que a história da religião israelita possui um senso de ironia. O mesmo povo antigo e moderno que tão impiedosamente ridicularizou os pagãos por seus mitos e superstições fracassou em reconhecer em si próprio as mesmas predisposições supersticiosas. Os mesmos crentes que deploram os produtos da imaginação humana não são capazes de enxergar que um deus criado como um personagem numa história escrita não é menos um ídolo do que os silenciosos deuses esculpidos em pedra ou madeira.

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por Jaco Gericke

Uma terceira e última concepção absurda no Antigo Testamento já foi tangenciada no capítulo anterior: a idéia de que o cosmos inteiro seja uma monarquia e que a eterna morada divina de Javé nos céus funciona como um reino (Deut. 32:8-9; 1 Sam. 8:7; Dan. 6:27; etc.). Acredita-se que a morada de Javé seja um palácio em que a divindade  em pessoa está sentada num trono (Sal. 11:4; etc.) Um dos meios de transporte preferido pelo deus são as carruagens conduzidas por cavalos (2 Reis 2:11-12; 6:17; Zac. 6:1-8; etc.) Javé também precisa de um exército cuja arma predileta é a espada (Gen. 3:22; 32:1-2; Josué 5:13-15; 2 Sam. 24:16,27; etc.) Javé é sábio mas não onisciente e recorre a conselheiros (1 Reis 22:20-23; Isa. 6:3; Jer. 23:18; Sal. 82:1; 89:5; Jó 1:6; etc.) e serviços de inteligência que espionam as pessoas a fim de assegurar-se de sua lealdade (Jó 1-2; Zac. 3; 1 Cron. 21; etc.). O chifre de carneiro foi um instrumento musical popular nos domínios de Javé (Ex. 19:16); e os habitantes do Céu alimentam-se de pão e cobrem-se com vestes de puro linho branco (Sal. 78:25; Ez. 9:2; Dan. 10:5; etc.) Javé se dedica até mesmo a escrever em rolos de papiro (veja o “livro” [da vida] em Ex. 32:32; Sal. 69:29; 139:16; Dan. 7:10; 10:21; etc.).[19]

Para avaliar a impossibilidade deste estado de coisas, o leitor deveria dedicar algum tempo para refletir sobre a natureza historicamente transitória e culturalmente relativa de objetos como rolos de papiro, carruagens conduzidas por cavalos, espadas, trajes de linho e trompetes de chifre de carneiro. São todos artefatos demasiado humanos e efêmeros. Houve uma época no passado em que eles não existiam. Antes que tais coisas fossem usadas pelos humanos, as pessoas escreviam sobre pedra e argila; lutavam com clavas, arcos e lanças; e viajavam a pé. Então os próprios humanos batizaram ou inventaram estes objetos utilizados por Javé, e então os próprios objetos evoluíram ao longo do tempo. Algumas culturas nunca utilizaram estes objetos e jamais ouviram falar deles. Finalmente, devido ao desenvolvimento e às mudanças culturais e tecnológicas, tanto a instituição política da monarquia como vários dos artefatos utilizados por Javé caíram em desuso e hoje em dia a única fonte de interesse em sua preservação é sua antiguidade. Pouquíssimas pessoas atualmente escrevem em rolos de papiro, lutam com espadas, vestem-se com trajes de linho, sopram chifres de carneiro ou viajam em carruagens conduzidas por cavalos. No entanto, se os textos do Antigo Testamento são dignos de crédito, a realidade última é o deus de Israel que utiliza eternamente artefatos da Idade do Ferro. No palácio celestial de Javé, coisas como trompas de chifre de carneiro, rolos de pergaminho e carruagens existem desde sempre e continuarão a existir para sempre.

Este estado de coisas não deveria nos surpreender. Existe uma razão pela qual presume-se que a criação de Javé seja uma monarquia em vez de um distrito administrativo ou uma democracia. O “Deus” cristão absolutamente não é o objeto de adoração desde toda a eternidade passada mas a divindade nacional “Javé” de uma religião localmente restrita e demasiado recente na história. A mais antiga evidência do Javeísmo remonta a fé nesse deus a não mais do que 3000-3500 anos atrás. Isto explica porque “Deus”, também conhecido como Javé, age, fala e se comporta como um típico deus do fim da Idade do Bronze e do começo da Idade do Ferro e não é capaz senão de desempenhar o papel deste tipo de personagem nas histórias em que figura. Ele está aprisionado à concepção da natureza divina disponível à época com que eram construídos os papéis teatrais para a divindade. Por todas as suas idiossincrasias, Javé instintivamente age como um deus de seu tempo.

Neste ponto, constrangimentos conscientes e inconscientes derivados da natureza culturalmente construída do que se reivindica ser objetiva e eternamente apenas “verdadeiro” tem levado os apologistas à única maneira óbvia de salvar sua credibilidade: a reinterpretação. Vários teólogos contemporâneos perdem as estribeiras insistindo que toda a linguagem religiosa referente ao mundo divino e sobrenatural deve ser entendida simbolica ou metaforicamente. “Deus” foi apenas se “adaptando” (Calvino). Mas a teoria de que toda linguagem lidando com o mundo divino deve ser entendida como mítica ou metafórica de modo que os humanos sejam capazes de apreende-lo torna-se uma generalização pós-bíblica quando se concebe que seja aplicável a todos os textos do Antigo Testamento. Pois, conquanto algumas referências aos artefatos humanos utilizados por Javé sejam realmente deste tipo, um literalismo ingênuo também está presente em vários casos. Somente aqueles que não são capazes de admitirem para si próprios que não mais acreditam em Javé conforme representado na Bíblia precisam recorrer a tal reinterpretação para fazer a divindade parecer menos obviamente impossível. Os que acreditam em Deus precisam recalcar o fato de que sua divindade costumava ser Javé, cuja realidade é por inteiro tão obviamente absurda que demanda contínuas revisões para ocultar o fato de que os humanos de uma época específica imaginaram que a realidade em si funcionava como a única configuração política e cultural com que eles próprios estavam familiarizados.

Esta necessidade de reinterpretação do mundo divino em nenhuma outra circunstância é mais evidente do que na compreensão do conceito bíblico de “céu”. O crente contemporâneo insistirá que ele é algum tipo de dimensão espiritual e rirá da cara das pessoas que afirmaram não terem encontrado Deus no espaço. Mas o fato é, para os antigos israelitas e para o próprio Javé, que o céu realmente era, falando sem rodeios, um palácio divino nas camadas elevadas da atmosfera. Além disso, o conceito de “espírito” não tinha nada a ver com alguma coisa transcendente, mas no idioma hebraico denota uma substância imaterial embora natural como o vento. Não havia nenhum dualismo natural/sobrenatural ou físico/espiritual no sentido moderno – que é a razão pela qual a respiração de Javé foi identificada com o vento e porque ele pode insuflar vida no barro (Gen. 2). Que sua morada estivesse localizada no que atualmente chamamos de céu é evidente no movimento de entrada e saída do céu na narrativa bíblica. Javé desce até o Sinai (literalmente, Ex. 17-19), e Elias ascende ao Céu numa carruagem (literalmente, 2 Reis 2). Javé olha do alto dos céus para os humanos, e as pessoas olham para o Céu acima ao orarem (veja Sal. 14). A razão pela qual Javé cavalga uma nuvem ligeira (Isa. 19), pela qual o trovão é literalmente a voz divina (Jó 37), é porque ele e seus adoradores acreditavam que ele estava literalmente lá em cima. Esta é a razão pela qual Jesus supostamente despediu-se numa nuvem e retornará sobre uma – porque o Céu estava literalmente lá em cima. Crentes que acreditam que a terra é redonda e aceitam uma cosmologia moderna com um céu vazio e ainda assim não ficam chocados e desorientados com sua fé quando leem o Antigo Testamento definitivamente não o compreenderam.[20]

Para entender a idéia por trás desta cosmografia, mais uma vez pense numa sociedade humana ou na planta de qualquer metrópole moderna. A morada divina era considerada simplesmente a “área nobre” do cosmos – o palácio ou fortaleza nas colinas. A divindade vive “lá em cima” apartada dos humanos porque o sistema religioso prescreve uma segregação entre deuses e humanos – quando você é um deus, você não se mistura com a patuléia com frequência e é visto entre a plebe apenas raramente. Essa é a única razão (e nenhuma outra mais) pela qual o divino aparecia e falava com os humanos tão raramente. E quando ele descia, instalações prontas já estavam à sua espera – seu hotel sete estrelas privativo, o templo, cuja designação em hebraico é a mesma para palácio e que era a casa agradável, arejada e silenciosa de Deus onde uma vasta criadagem servia-lhe vinho, gordura animal e óleos vegetais duas vezes ao dia e o cobria de presentes (o verdadeiro motivo para os sacrifícios). A idéia do “alimento” de Javé não é incomum no texto (veja Ezeq. 44:7 e Lev.)

Em última instância, os cristão tendem a sugerir que a idéia de sacrifício humano como alimento para os deuses é uma prática pagã primitiva e completamente repulsiva. Muitos gostam de ressaltar as diferenças entre a Bíblia e outras religiões antigas no sentido de que o Antigo Testamento proibia tal prática. Entretanto, mais uma vez os aplausos são prematuros. Certamente, vários textos do Antigo Testamento rejeitam a idéia do sacrifício de crianças. Entretanto, as próprias fontes de redação anterior nas leis do Antigo Testamento  para a consagração do primogênito mostram que houve uma época em que se acreditava que Javé aprovava essa prática (Ex. 13:2; Lev. 27:28-29).[21] Sua aceitação é implicada pela história da filha de Jeftá (Juí. 11:29-40). Também encontramos vestígios desta prática na história de Abraão e Isaque (Gen. 22) em que Javé não via problemas com a cremação do corpo mesmo que ele por fim venha interromper o ato de seu servo a fim de manter sua promessa. Possivelmente mais negligenciada, contudo, é a idéia de que o sacrifício humano seja necessário e tenha sido reabilitada no Cristianismo. Aqui encontramos a significância teológica do sangue de um homem torturado e assassinado como uma oferenda pela expiação do pecado. Que os cristãos, também, sejam capazes de tornarem-se assim líricos acerca do assassinato de um ser humano (ou de um deus) mostra a repaganização do Javeísmo (que em si nunca foi puro e não possui essência distintiva alguma) e revela a facilidade com que a lavagem cerebral pode dessensibilizar alguém. Isto é claramente evidente quando os cristãos não acham nada fora de ordem quando consomem ritualmente a carne e o sangue de seu deus. A maioria das versões de Javé não aprovaria essa prática.

Outra verdade desconcertante e uma necessidade demasiado humana na psiquê de Javé é vislumbrada em seu motivo para criar os humanos. No mundo de Javé, o propósito da vida humana é sermos escravos (eufemisticamente chamados de “servos”) da divindade. Segundo um dos mitos, os humanos foram criados a fim de governar no lugar do deus de modo que ele não precise faze-lo (Gen. 1:26-28). Em outro mito, bastante incidentalmente em Gênesis 2:5, sugere-se que o propósito da vida humana seja trabalhar arduamente a terra (Ge. 1-2). Mais uma vez Javé mostra-se averso ao labor braçal e quer servos para fazer o trabalho que lhe é indigno. Não que isso sejá lá muito lisonjeiro, mas aos humanos foi concedido pelo menos o prazer de massagear o ego divino e em retribuição obter uma recompensa mínima (alimentação, um plano de saúde, segurança, etc.).

Os crentes contemporâneos definitivamente não consideraram com a devida seriedade os absurdos na concepção do cosmos como um tipo de cidade-estado governada por um monarca no céu cujos caprichos e extravagâncias tem que ser atendidos sob pena de morte presente no Antigo Testamento. Os cristãos sofreram uma lavagem cerebral tão profunda que a idéia de que os humanos são servos de um ditador cósmico ainda afigura-se reconfortante para muitos. Eles falam de uma relação pessoal com a divindade como se ele fosse um pai afetuoso, não percebendo que qualquer pai que trate seus filhos da maneira como Javé supostamente trata os seus sem dúvidas teria que ficar sob observação psicológica e provavelmente passaria o resto de sua vida numa prisão (embora possa-se reconhecer que a tortura eterna no inferno seja uma crença do Novo Testamento; o deus do Antigo Testamento não conhece tal lugar). Os que pensam que a Bíblia afirma a dignidade humana parecem não compreender que ela é completamente alheia à qualquer noção de direitos humanos. Mas porque os cristãos tem por muito tempo lido uma Bíblia reinterpretada, eles não são mais capazes de enxergar o que realmente se encontra lá. Os estudiosos críticos da Bíblia que estão simplesmente tentanto educa-los e esclarece-los sobre qual é realmente o caso no texto estão por conseguinte ironicamente correndo o risco de serem considerados “não-bíblicos”.

Tudo o que foi exposto acima, contudo, não faz sentido algum à luz da história da vida sobre a terra. O fato é que atualmente a idade estimada da terra é de aproximadamente 4,5 bilhões de ano, e se a representássemos num calendário anual, os humanos teriam entrado em cena durante o último minuto antes da meia-noite do dia 31 de dezembro. Humanóides e práticas religiosas tem estado por aí há dezenas de milhares de anos. Contudo, ainda hoje nos dizem para acreditar no que supõe-se ser o “verdadeiro Deus” embora seu personagem da Idade do Ferro (1200-500 a.C.) e sua configuração sobrenatural tenham entrado em cena tardiamente na história da religião em algum momento durante a segunda metade do segundo milênio antes de Cristo – e apenas acidentalmente espelha a cultura desta era. Lamento, mas isso é intragável. Não é mais digno de crédito do que reivindicar que qualquer outro deus com uma história discernível de origem e reconstrução míticas acidentalmente calhou de ser a realidade última. A palavra “absurdo” ainda possui algum sentido nos círculos religiosos hoje em dia?

Não somente o Javeísmo (agora em sua versão melhorada “Deusismo”) foi um retardatário na história das religiões, como também foi um assunto bastante restrito geograficamente. Javé e seus adoradores estavam confinados num espaço sagrado ao leste do Mediterrâneo. Os povos antigos por todo o globo nunca conheceram esta divindade, e nunca, de acordo como Antigo Testamento, Javé soube de suas existências (por exemplo, os ameríndios, os khoi-san da África do Sul, ou os aborígines australianos; confira a lista de nações em Gen. 10). O escândalo da peculiaridade é agravado quando se percebe que todas as preocupações e atributos de manifestação supostamente sobre-humanos de Javé parecem totalmente dependentes da região em que ele foi adorado. De acordo com o Antigo Testamento, ele vem das estepes desérticas ao Sul (a Pensínsula Arábica, veja Juí. 5; Hab. 3; Sal. 68) como um deus-redemoinho, um fetiche tribal de uma outrora horda nômade (segundo os indícios no Antigo Testamento, existe a possibilidade de ter sido cultuado primeiro pelos midianitas ou queneus). As regiões tropicais da terra desconhecem por completo a maldição de esterilidade árida que lançou sobre a criação, enquanto regiões como os Alpes riem-se da idéia de que a Terra Prometida seja  o paradigma da beleza para paisagens naturais. O fato é que a psicologia ambiental e a antropologia ecológica dos antigos israelitas explicam tão bem a natureza e as preocupações deste deus particular que é impossível até mesmo imaginar Javé sendo adorado pelos, digamos, esquimós.

Curiosamente o conceito de eternidade divina na Bíblia Hebraica nem sempre coincide com o filosófico. Em Isaías 43:10, chegamos a encontrar implícita a idéia de que Javé tem uma vida de duração limitada:

Vós sois as minhas testemunhas, diz Javé, o meu servo a quem escolhi, para que saibais, me acrediteis, e entendais que eu sou; antes de mim não se formou nenhum deus nem haverá nenhum depois de mim.

Olhe bem de perto mais uma vez e tente levar o texto mais a sério do que nunca. Ele não diz apenas que não há outros deuses. Ele introduz uma sequência temporal que, se todos os textos desejassem enfatizar que eram afirmações de natureza monoteísta, pareceria completamente desnecessária. No entanto a maioria das pessoas é capaz de ler esta passagem e nunca se incomodar em perguntar como é possível a Javé referir-se a um tempo “anterior” e “posterior” a ele durante o qual não existem outros deuses. Este texto dá a entender claramente que (a) existe um período temporal anterior à existência de Javé quando nenhum outro deus existiu, e (b) chegará um tempo posterior à existência de Javé durante o qual nenhum outro deus tampouco existirá. Naturalmente, esta idéia blasfema não faz sentido algum no contexto do monoteísmo filosófico, mas ela está lá e é perfeitamente compreensível no contexto das teogonias do Oriente Próximo antigo. Também os deuses nascem do caos e ao caos retornam, e nem mesmo o primeiro capítulo do Gênesis diz que Deus criou as trevas/águas. Sem dúvida alguma, esta alusão é basicamente a única de seu tipo na Bíblia (embora a noção de vida divina, ou nephesh, embora atenuada em textos como Exo. 31:18, sugira a possibilidade de degeneração), mas como os estudiosos tem desejado ver o “segundo” Isaías como um aprimoramento teológico, eles ignoraram os elementos mais primitivos de sua teologia.

(…conclui a seguir.)

Notas.

19. Para mais exemplos e discussões deste tipo de projeção sociomórfica no Antigo Testamento, veja Gericke, “Yahwism and Projection,” 413–15.

20. Este ponto foi magistralmente demonstrado por Babinski em “The Cosmology of the Bible.”

21. Veja Avalos, “Yahweh Is a Moral Monster,” The End Of Christianity, 226–27.

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por Jaco Gericke, PhD

A Bíblia é um texto, um artefato literário. A questão relevante é a relação entre seu protagonista Javé conforme retratado e o mundo exterior ao texto, este em que vivemos. Em relação a isso, vários estudiosos da Bíblia ainda são teístas de quinta categoria.

Primeiro, ainda existem alguns (muitos!) fundamentalistas (realistas ingênuos). Este é o nosso cristão (muitas vezes “evangélico”) conservador, praticante, medíocre, que pensa ser justificado acreditar numa correspondência entre as representações de Javé no texto bíblico e uma suposta realidade extratextual à qual elas supostamente remetem. Assume-se que o texto e a linguagem funcionam como uma janela através da qual a realidade pode ser vista como de fato é. A Bíblia é literalmente a Palavra de Deus.

Segundo, a maioria dos estudiosos da Bíblia de maior penetração entre o grande público são teístas, porém realistas críticos. Eles acreditam que o Antigo Testamento contém as perspectivas humanas falíveis dos antigos israelitas sobre Deus em suas crenças sobre Javé, que, não obstante, pressupõe-se realmente existir. Segundo esta concepção, o texto bíblico é como uma pintura, uma tentativa de representação semirrealista da realidade que ela busca descrever. O texto é a Palavra de Deus em discursos ou palavras humanas sobre Deus.

Terceiro, existem aqueles de nós cientes de que o que há no texto é o personagem Javé que, conforme retratado, pode, por diversas razões, possivelmente inexistir fora das histórias que protagoniza. Javé é como o Pato Donald, que é real num sentido ficcional. Ele não existe fora dos gibis e dos desenhos animados sobre seu personagem (exceto na forma de pessoas fantasiadas, eu imagino). Somos não-realistas que acreditam que o texto não é nem uma janela para alguma realidade divina nem uma pintura dela. O texto é simplesmente uma casa de espelhos convexos e côncavos que de maneira distorcida refletem para nós somente ideais, crenças, desejos, medos e valores humanos. Para nós o texto não passa de uma construção humana e ponto final. Como observado por Robert Carroll, “O Deus bíblico é um personagem das narrativas hebraicas e por conseguinte é, num sentido muito verdadeiro, um personagem fictício”.[3]

A mesma ideia foi reiterada por David Clines, ex-presidente da Sociedade de Literatura Bíblica, que percebeu que um estudioso da Bíblia precisa acreditar em Javé tanto quanto um helenista acredita em Zeus ou um egiptologista em Rá. Em sua opinião, quando o assunto é a representação de Deus no Pentateuco, “o Deus do Pentateuco é um personagem de romance. O Deus do Pentateuco não é uma ‘pessoa’; ele é um personagem num livro. E não existem pessoas em livros, não pessoas reais, apenas ficções; pois livros são fabricados, não procriados…”[4]

Além disso, até mesmo um cripto-fundamentalista populista como o teólogo pós-liberal do Antigo Testamento Walter Brueggeman não teve problemas em admitir isto quando escreveu, analogamente ao que William Harwood corretamente insinuou ser apenas o “discurso ambíguo do corpo docente do departamento de mitologia”: “mesmo em referência a Deus, a potência produtiva e imaginativa da retórica oferece ao público deste texto um Deus que não é conhecido de nenhum outro modo, que não se encontra disponível por nenhum outro meio; um Deus, em suma, que não se encontra ‘lá’ em qualquer outro sentido concebível, malgrado a ousadia desta afirmação.”[5]

Em geral, estes estudiosos do Antigo Testamento relutam em se envolver com filosofia da religião. Como resultado, eles não tentaram articular as razões pelas quais acreditam que Javé conforme representado nos textos bíblicos não existe realmente. Mas a própria Bíblia oferece um mandamento para desafiar qualquer reivindicação de divindade. Assim, descobrimos que o Deus do Antigo Testamento poderia às vezes vociferar furiosamente, até mesmo desafiar a realidade dos deuses estrangeiros, acusando-os de serem representações antropomórficas; em Isaías 41:21-24, por exemplo, lemos:

Apresentai a vossa demanda, diz o SENHOR; trazei as vossas firmes razões, diz o Rei de Jacó. Tragam e anunciem-nos as coisas que hão de acontecer; anunciai-nos as coisas passadas, para que atentemos para elas, e saibamos o fim delas; ou fazei-nos ouvir as coisas futuras. Anunciai-nos as coisas que ainda hão de vir, para que saibamos que sois deuses; ou fazei bem, ou fazei mal, para que nos assombremos, e juntamente o vejamos. Eis que sois menos do que nada e a vossa obra é menos do que nada; abominação é quem vos escolhe.

Alguém poderia desejar dirigir os mesmos desafios a Javé, no mínimo por uma questão de isonomia. Talvez seja pedir demais que os autores deste texto apliquem o mesmo critério a eles próprios. Mas não tentemos este deus – devemos deixar que esta alegada revelação divina fale por si própria. Pois de todos os argumentos que mostram porque uma reivindicação de divindade é falsa, nenhum aparenta ser tão devastador quanto o argumento da projeção das qualidades demasiado humanas sobre uma entidade alegadamente sobre-humana. O irônico é que considerar o Antigo Testamento seriamente irá nos revelar que a utilização da mesma linha de raciocínio contra as representações de Javé nesse texto tem consequências arrasadoras.

Antes de começarmos, quero deixar registrado que não estamos tentando ser inflexíveis ou blasfemos – não há prazer algum em destruir as crenças alheias. Queremos apenas tornar conhecida a verdade sobre a Bíblia, mostrar porque a Bíblia (que é apenas um livro) é em si mesma o mais insidioso dos agentes idólatras. O que torna necessária nossa abordagem crítica são as atitudes controversas de inúmeros indivíduos, incluindo um profeta bíblico, e certamente parece prudente. Afinal, nenhum deus apareceu diante de nós para nos dizer que este livro (a Bíblia) é verdadeiro. Nenhum deus aparecerá para você enquanto você lê para informa-lo de que seu autor desta série está equivocado. Mas humanos que se autodenominam cristãos simplesmente continuarão citando trechos da Bíblia ou referindo-se a suas experiências religiosas ou a alguma posição filosófica para convence-lo disso. Mas até mesmo o próprio personagem Javé nos ensina que não se deve confiar em humanos – se existe um deus, deixemos que ele próprio se defenda (vejam Juízes 6 a respeito de Baal). E precisamos ser críticos, já que a religião bíblica faz afirmações demasiado importantes sobre a realidade para não ser submetida, como se se tratasse de uma questão de vida ou morte, a um rigoroso escrutínio. O fato é que vários dos que contribuíram para este livro (Nota do Tradutor: Gericke se refere aos autores de outros capítulos de The End Of Faith) éramos cristãos “bíblicos” comprometidos. Este que vos escreve já foi um cristão desse tipo. Todavia, ao tentarmos ser maximamente bíblicos, todos descobrimos o que a Bíblia realmente diz e como resultado perdemos nossa fé.

Levar a Bíblia a sério tem este efeito. Se você lê as Escrituras e não fica chocado com todas as suas crenças religiosas, você não as compreende. Se não acredita em mim (e você não tem essa obrigação), apenas prossiga na leitura. O pioneirismo e a fatalidade do argumento reside  no modo como ele combina filosofia da religião com a história da religião israelita – e nunca precisamos apelar a qualquer outra coisa além do que se encontra na própria Bíblia. Concentraremo-nos no Antigo Testamento, e se a discussão a seguir não abrir seus olhos para a natureza de literatura fantástica da Bíblia, e do Deus da Bíblia como nada mais do que uma antiga e memorável quimera, nada mais terá este efeito.

(…continua…)

Notas.

3. Robert Carrol, Wolf in the Sheepfold (London: SPCK 1991), 38. 4. David Clines, Interested Parties: The Ideology of Readers and Writers of the Hebrew Bible (Sheffield, England: Sheffield Academic Press, 1995), 190. 5. Citado em William Harwood, Mythology’s Last Gods: Yahweh and Jesus (Amherst, NY: Prometheus Books, 1992), 257.

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Título Original: Poderia Deus Existir Se Javé Não Existe?[1]

Autor: Jaco Gericke, Ph.D.

Fonte: The End Of Christianity, págs. 131-154, (John W. Loftus, ed., Prometheus Books, 2011)

Uma dupla de estudantes irreverentes certa vez censurou o Dr. Fausto de Marlowe: “Fausto! Mergulhe nos abismos do que você professa!” Vários cristãos evangélicos dedicaram-se ao estudo da apologética ou dos estudos bíblicos exatamente com esse espírito – e acabaram por não professar mais nada! Seus relatos são muitas vezes assustadoramente similares embora sempre fascinantes!
Jaco Gericke é um de tais intrépidos exploradores. Primeiro ele leu o material “inofensivo”, então passou aos livros que lhe avisaram para não ler, e então a todas as outras coisas! Atualmente Gericke trabalha na Faculdade de Ciências Humanas da North-West University na África do Sul. Ele ostenta o título de Doutor em Línguas Semíticas e um Ph.D. em Antigo Testamento, com uma especialização em Filosofia da Religião. Já publicou dezenas de artigos e ministrou diversas conferências. De sua autoria o Rebeldia Metafísica já publicou Fundamentalismo Sobre Pernas de Pau: Uma Resposta À Epistemologia Reformada de Alvin Plantinga.

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A refutação histórica como refutação definitiva._Outrora buscava-se demonstrar que não existe Deus – hoje mostra-se como pôde surgir a crença de que existe Deus e de que modo essa crença adquiriu peso e importância: com isso torna-se supérflua a prova de que não existe Deus. – Quando, outrora, eram refutadas as “provas da existência de Deus” apresentadas, sempre restava a dúvida de que talvez fossem achadas provas melhores do que aquelas que vinham de ser refutadas: naquele tempo os ateus não sabiam limpar completamente a mesa.

_ Friedrich Nietzsche, Aurora[2]

Introdução

Até hoje, vários filósofos da religião ateus ainda tendem a tentar refutar a alegada realidade do Deus cristão patenteando os problemas lógicos com os atributos divinos ou tentando argumentar, por uma via científica ou filosófica, que “Deus” como a Causa Primeira ou Projetista Cósmico ou Providência Benevolente não existe ou não pode existir. Isto é perfeitamente válido e louvável; contudo, esta abordagem muitas vezes negligencia o fato de que os apologistas jamais deixarão de reinterpretar adaptativamente o conceito de “Deus”, nem de propor teorias do erro para explicar porque eles parecem irracionais enquanto outros permanecem céticos, tampouco  abandonarão o trabalho emocionalmente gratificante de conferir às suas especulações pseudocientíficas e hipóteses ad hoc uma fachada intelectualmente respeitável. Isto significa que qualquer refutação ostenta um valor de eficácia apenas relativo, na melhor das hipóteses quando atinge o deus dos filósofos.

Da maneira como vejo as coisas, existe uma maneira muito mais devastadora de mostrar porque o que a maioria das pessoas denomina “Deus” não existe e não pode existir. Ela implica uma consideração séria da Bíblia (mais séria do que a dos fundamentalistas) da parte dos filósofos da religião. Ela envolve escancarar o fato de que as luxuosas vestimentas confeccionadas nos ateliês da filosofia da religião cristã não cobrem imperador algum; para isso, examinaremos de perto o imperador despido da história reprimida da religião israelita da qual aquela filosofia se originou. Então deixaremos que o senso comum termine o trabalho – a maioria das pessoas pode somar dois e dois sem que seja preciso que alguém lhes sopre a resposta. O fruto da árvore do conhecimento sempre conscientiza quem o come  de sua própria nudez; e é uma passagem só de ida para fora do paraíso dos tolos.

Quem é “Deus”?

O que o mundo ocidental tem em mente quando se refere de maneira vaga e instintiva a “Deus” não é nenhuma realidade última, inefável e intocável além dos limites das faculdades racionais humanas que um dia irá surpreender os descrentes, desvelando sua cegueira cognitiva. Em vez disso, a entidade a que a maioria dos leitores se refere quando falam de “Deus” é na verdade uma versão misteriosamente anônima e aprimorada do que na verdade costumava ser uma divindade tribal jovem, bastante específica e singularmente híbrida do Oriente Médio chamada Javé. O truque foi feito quando o vocábulo “Deus” se perdeu na tradução – na Bíblia a palavra “Deus” pode, no hebraico do Antigo Testamento, ser tanto um nome pessoal como um termo genérico. Uma dignidade conceitual ilusória é criada nas traduções da Bíblia para o português nas passagens em que a palavra hebraica “deus” num sentido amplo é capitalizada, mesmo quando ela não funciona como um nome pessoal mas como o nome de uma espécie ou uma categoria natural (ou seja, um deus). Naturalmente, os tradutores fazem isso apenas quando o termo é usado para o “deus de Israel”, que num piscar de olhos torna-se o “Deus de Israel”.

Desde Tomás de Aquino, o monoteísmo filosófico não mais considera Deus incluído num gênero, apesar dos pressupostos bíblicos em contrário, assegurando-nos que estamos lidando com um tipo específico de deus entre outros. Muitas vezes os outros deuses também se perdem na tradução quando o termo plural hebraico para a divindade é traduzido como “poderosos”, “anjos”, “seres celestiais”, e assim por diante. Várias pessoas não sabem que a expressão “os filhos de Deus/os deuses” em Gêneis 6:1-4 significa apenas “deuses do sexo masculino” (assim como a expressão “filhas do homem” significa apenas “fêmeas humanas”). Referências às “assembléias divinas” como aquelas em 1 Reis 22:19-22, Salmo 82 e Isaías 6:14 também pressupõem a realidade de outros “deuses”. Apenas mais tarde na história da religião israelita esses “deuses” foram rebaixados a “mensageiros” semidivinos. Embora mesmo a palavra “anjo” seja enganadora já que esses seres não tem nada a ver com a imagem que os cristãos popularmente a eles associam. Na Bíblia hebraica eles são serviçais semidivinos masculinos violentos, humanóides ou animalescos (querubins, serafins). Eles também devem ser distinguidos dos seres divinos na assembléia divina de Javé (e só para constar, não existem mulheres ou bebês cupidos angelicais fofinhos no Antigo Testamento, exceto por uma única referência a mulheres numa passagem tardia em Zacarias).

Honestamente falando, vários textos do Antigo Testamento não presumem o politeísmo; entretanto, vários outros presumem a monolatria em vez do monoteísmo – isto é, a crença em que apenas um deus deve ser adorado, não que apenas um deus existe. As pessoas que leem as Bíblias traduzidas raramente percebem isso, mas não é necessário conhecer a língua hebraica para reconhecer a monolatria implícita. Considere por exemplo os Dez Mandamentos. Se a existência de outros deuses não fosse presumida, os leitores nunca se incomodariam em perguntar porque Javé foi chamado um deus (e não alguma outra coisa) em primeiro lugar, ou de quem se supunha que estivesse ciumento, como o primeiro mandamento subentende. Como é possível – e aqui estamos falando de um deus – sentir ciúmes de algo que não existe?

Não estou negando a presença de crenças monoteístas no Antigo Testamento, mas as crenças de um autor bíblico a este respeito muitas vezes contradizem as de outro. As traduções obscurecem este fato, e abaixo ofereço traduções literais do hebraico, que vocês podem confrontar com as versões tradicionais em suas cabeceiras:

“Sobre todos os deuses do Egito eu executarei julgamentos: eu sou Javé” (Êxodo 12:12)

“Quando Elyon deu às nações sua herança, quando separou os filhos dos homens, ele estabeleceu os limites das pessoas de acordo com o número dos filhos de El. Mas a parcela de Javé é seu povo; Jacó é a parte de sua herança (Deut. 32:8-9

“Não possuirás o que Chemosh seu deus te deu para possuir? E tudo o que Javé nosso deus tenha desapropriado diante de nós, nós possuiremos.” (Juí. 11:24)

“Deus está no concílio dos deuses, ele julga em meio aos deuses; eu próprio dissera, vocês são todos deuses, e vocês são filhos do mais alto (deus)” Salmo 82

“Pois quem se iguala a Javé desntre os filhos dos deuses” Salmo 89:7

“Pois Javé é um grande deus e um grande rei sobre todos os deuses” Salmo 95:3

“Todos os deuses prostraram-se diante dele.” Salmo 97:7

“Então ele agirá, com o auxílio de um deus estrangeiro” Dan. 11:39

Estes textos fazem sentido somente sob a hipótese de que (ao contrário de outros textos) assumem a existência de outros deuses. Não há crédito algum para Javé se ele está lutando contra, reinando sobre, ciumento de, julgando, ou se é superior a, outras entidades que não existem. Naturalmente, várias reinterpretações destas passagens estão disponíveis na literatura apologética, mas estas são motivadas pelo dogma mais do que pela necessidade de aceitar a Bíblia em seus próprios termos.

No Antigo Testamento como um todo, não somente Javé como também outros deuses nacionais são chamados de deuses. Espíritos dos mortos, mensageiros ou conselheiros celestiais, reis, e até mesmo demônios também podem ser chamados de “deus” (veja 1 Sam. 28; Deut. 32, Salmos 45; etc.) Acrescente à capitalização do termo genérico o fato de que o nome pessoal altamente específico do hebraico(!) para este deus – Javé (YHWH) – é reciclado com o termo genérico “Senhor” (seguindo a tradição judaica), e você evita completamente o escândalo da peculiaridade. “O Senhor seu Deus” soa algo mais respeitável e intimidador do que “Javé seu deus”. De modo que o que muitas vezes não recebe a devida atenção no debate sobre a existência de “Deus”, se por “Deus” compreende-se qualquer coisa minimamente relacionada ao teísmo bíblico, é o fato de que a entidade em sua configuração atual é na verdade o produto de uma evolução conceitual complexa, começando com concepções variáveis do deus Javé até chegar a “Deus”, um “Frankenstein” híbrido ao qual pode-se conferir alguma estatura filosoficamente respeitável.

E daí? Bem, esta pequena amostra de informação é mais ateologicamente potente e filosoficamente significativa do que parece à primeira vista. Pois ela significa que, ao tentar provar que “Deus” não existe, na medida em que “Deus” é de alguma forma relacionado à entidade adorada nas variantes biblicamente derivadas modernas (ou pós-modernas) do teísmo  (não importa o quão sofisticadas), a única coisa necessária é mostrar que as representações de Javé na antiga religião israelita não correspondem a qualquer realidade última externa ao texto. Não é diferente de tentar provar que Zeus não existe. Nem mesmo os cristãos podem faze-lo, mas você pode demonstrar que a crença em Zeus é absurda assinalando a natureza ridiculamente supersticiosa das representações da entidade em questão (ou seja, sua aparência humana, sua mente menos do que cientificamente informada, e seu mundo divino inexistente) expondo assim suas origens artificiais. Bem, o mesmo pode ser feito com “Deus”, também conhecido como Javé.

(…continua…)

Notas.

1. Esta série é uma versão revisada e bastante abreviada de um argumento contra a existência de Javé presente em minha tese de doutorado (Jaco Gericke, YHWH Realmente Existe? Uma Reconstrução Filosófico-Crítica do Caso Contra o Realismo na Teologia do Antigo Testamento [Tese de PhD, Pretoria, África do Sul: Universidade de Pretoria, 2003]), e uma levantamento bibliográfico completo deste argumento e suas evidências foi publicado em J.W. Gericke, “Yahwism and Projection: An A/theological Perspective on Polymorphism in the Old Testament”, Scriptura 96 (2007): 407-42. Os mesmos resultados e outros mais são corroborados pelo trabalho de Thom Stark, The Human Faces of God: What Scripture Reveals When It Gets God Wrong (And Why Inerrancy Tries to Hide It) (Wipf&Stock Publishers, 2011).

2. Friedrich Nietzsche, Aurora,São Paulo: Companhia das Letras, 2004, trad. Paulo César de Souza, pág. 71.

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por John W. Loftus

Adoro a maneira como o Dr. Jacko Gericke descreve a filosofia (sic) reformada de Alvin Plantinga como fundamentalismo sobre pernas de pau. A metáfora das pernas de pau retrata Plantinga colocando-se fora da mira do criticismo bíblico sem lidar realmente com as bases de sua fé.

William Lane Craig declarou inúmeras vezes que não é sua intenção debater a confiabilidade da Bíblia. Naturalmente não, por que ele não é capaz disso. Há não muito tempo atrás ele declinou um convite para debater contra Jacko Gericke sobre a existência do YHWH do Antigo Testamento. Sim, está certo. Ele disse que esta não era sua especialidade. Mas espere um momento. Ele anda por aí debatendo se Deus existe ou não, certo? O que quer dizer que ele acredita que YHWH existe. Então por que ele não pode defender a existência de seu Deus? Porque ele não é capaz de faze-lo. Isso exigiria que ele descesse de suas pernas de pau e chafurdasse na mira do criticismo bíblico que deixou sua fé em ruínas.

O que me traz à especialidade de Bill Craig, a Teologia Natural.

Nos meus tempos de estudante na década de 80, a Teologia Natural encontrava-se num estado desgraçadamente deplorável. Não que não houvessem pessoas trabalhando nessa área, porque haviam. Os católicos sempre empreenderam desde os tempos de Tomás de Aquino, e a série de Palestras Gifford baseadas no desejo de “promover e difundir o estudo da Teologia Natural no mais amplo sentido do termo” tem acontecido ininterruptamente desde os últimos anos da década de 1880. (N.T.: Carl Sagan já proferiu estas palestras, que podem ser conferidas em seu livro “Variedades da Experiência Científica“, título que homenageia o talvez mais célebre ciclo de palestras Gifford, o proferido por William James, Variedades da Experiência Religiosa. As palestras de James também foram fontes de preciosos insights que Dan Dennett explorou em seu livro Quebrando o Encanto – A Religião Como Fenômeno Natural.) É verdade que os protestantes e evangélicos, em sua maioria, não se preocupam muito com isso . O consenso parece ser que os cristãos poderiam não defender uma teologia baseada na razão e na ciência. A voz de Karl Barth como o maior teológo do século XX pode talvez ter sido a mais significativa e influente entre os protestantes ao afirmar que a teologia natural estava condenada desde o nascimento.

Mas uma movimento de revitalização ocorreu. Norman Geisler e seu pupilo William Lane Craig fizeram-se ouvir em alto e bom som através de obras como Apologética Cristã e The Blackwell Companion to Natural Theology e em outras obras como In Defense of Natural Theology: A Post-humean Assessment de James F. Sennett and Douglas Groothuis, além da ressurgência de proponentes do design inteligente como Michael Behe e William Dembski.

Mas não nos esqueçamos  da razão pela qual a Teologia Natural caiu em desgraça:  o massacre levado a cabo no século XIX pelo criticismo bíblico. As evidências do criticismo bíblico destruíram as razões para acreditar. Foi por isso que Barth conclamou sua geração de crentes a simplesmente pregar a Bíblia pois Deus se pronunciaria através dela. A Bíblia era uma uma testemunha da revelação de Deus, não a revelação propriamente dita. Isso foi um existencialismo derivado de Kierkegaard  em meio a argumentos racionais sustentando que a Bíblia continha mitos, lendas e falsificações compartilhadas por outras culturas similares da antiguidade.

Os fundamentalistas estavam de sobreaviso e contra-atacaram com várias réplicas ás críticas chamadas Fundamentals, mas estes argumentos não vingaram entre o crescente número de crentes religiosos que se tornaram barthianos. Outros, como Rudolf Bultmann, defenderam uma desmitologização do Novo Testamento a fim de revelar o kerygma, ou proclamação de evangelho, através da extirpação dos elementos do “imaginário mítico” do primeiro século com potencial para alienar os contemporâneos da fé cristã.

O que eu vejo como a recente ascensão da Teologia Natural é baseada numa completa ignorância dos estudos do criticismo bíblico. É como se estas pessoas jamais tivessem aberto um livro publicado pela Fortress Press, ou uma Bíblia Comentada Anchor, ou uma Bíblia Comentada Cambridge, ou as várias monografias publicadas pela Society of Biblical Literature. Com os achados arqueológicos das últimas décadas a situação é ainda pior do que o próprio Barth reconhecia em sua época. Agora sabemos que os povos antigos compartilharam concepções cosmológicas similares, como visto neste livro de Wayne Horowitz, que Ed Babinski utiliza como base de sua argumentação num capítulo de meu novo livro, “The Christian Delusion”.

Os teólogos naturais da atualidade continuam agindo como se soubessem o que estão defendendo e que há uma base histórica para o que estão defendendo. Uma situação que me lembra a do imperador nu. Eles agem como se possuíssem argumentos que lhes favorecem e pavoneiam-se por aí como se estivessem em trajes de gala quando na verdade estão nus. O criticismo bíblico destrói completamente os fundamentos históricos de sua fé. Eles estão nus e desprotegidos como pássaros tagarelas. Estão me ouvindo? Vocês estão nus. Cubram suas vergonhas e parem de se expor ao ridículo.

A teologia natural não irá durar muito. É o que prevejo. É uma moda passageira. E o evangelicalismo está de saída. Os evangélicos serão obrigados a descer de suas pernas de pau e ver de perto no que estão se atolando.

Há mais uma coisa ainda. Parece-me estranho que estes autores jamais falem sobre, em primeiro lugar, como eles vieram a acreditar. Victor Reppert não veio a acreditar por causa do Argumento da Razão, tampouco Bill Craig veio a acreditar por causa do Argumento Cosmológico Kalam. O que eles fazem é defender o que foram compelidos a acreditar em virtude de um compromisso inicial, feito geralmente na juventude, que determina sua abordagem destes argumentos. Agora eles se encontram defendendo uma concepção anselmiana de Deus alcançada através de um longo processo de falsificação teológica. Mas eles nunca consideraram seriamente o conhecimento produzido por Karl Barth.

Contudo, existem alguns evangélicos que reconhecem os resultados do criticismo bíblico, como Kenton Sparks, John Walton e Peter Enns. Sparks, por exemplo, subscreveu a Barth. Muitos mais ainda serão forçados a faze-lo. Então, a medida em que a história se desenrola, eles se tornarão liberais e vários deles se tornarão agnósticos. É um processo realmente lento mas tem ocorrido desde o Iluminismo e influenciado como os novos seminários e editoras, todas as décadas, tem de ser fundados por conservadores, a medida em que estes seminários e editoras tornam-se mais e mais esclarecidos e liberais.

Está é a razão pela qual eu concentro minhas críticas à fé cristã no criticismo bíblico. Eu tenciono solapar completamente a base inteira da teologia natural. Meu objetivo é derrubar estes teólogos naturais de suas pernas de pau para que vejam que a base de sua fé não está lá, e assim fazendo cientifica-los ao máximo possível que eles estão nus. Nus e desprotegidos como pássaros tagarelas. Me divirto muito com isso. Em minha opinião esta é a melhor maneira de desacreditar seus empreendimentos sofisticados na teologia natural. E isso não exige um mergulho de cabeça nesse tipo de literatura filosófica. Embora esse mergulho seja importante eu pessoalmente me envolva com esse tipo de literatura, penso que ela não é um anulador solapante (undercutting defeater, uma crença A que enfraquece as razões para uma crença B; por exemplo, a teoria da evolução seria um undercutting defeater para os argumentos teleológicos. A TE não os refuta, mas os enfraquece) para o que eles defendem. O verdadeiro anulador solapante é o Criticismo Bíblico.

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