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Posts Tagged ‘Outsider Test Of Faith’

Os teístas repetidamente atribuem aos ateus pouca ou nenhuma consideração pela verdade. Mas o vídeo Atacando William Lane Craig, do qual tomei conhecimento nos comentários ao texto que vocês-sabem-quem escreveu em resposta ao artigo “O Ateísmo Não Foi A Causa Do Holocausto” constitui uma amostra inestimável do que os teístas entendem por compromisso ético com a verdade; veremos como apologistas evangélicos profissionais como o Dr. Craig utilizam destruição da imagem alheia sem a mínima consideração pela honestidade ou pela mais elementar confirmação dos fatos. A seguir, algumas das mais graves acusações contidas no vídeo são desmentidas. As informações abaixo foram em sua maior parte obtidas aqui e aqui.

1. Título do vídeo: “Atacando William Lane Craig”: este título por si já vale um estudo da trapaça. Na verdade, a maior parte do vídeo consiste de ataques contra o Dr. Avalos. Com efeito, não se ouve uma única citação do Dr. Avalos em que este faz qualquer comentário sobre o Dr. Craig, sendo difícil entender como este vídeo pode ser sobre ataques contra William L. Craig. O título do vídeo deveria ser “Atacando Hector Avalos”.

Os únicos alegados ataques contra o Dr. Craig vem de um assim chamado pentelho que estava na platéia do debate ocorrido em 2004 entre o Dr. Craig e o Dr. Avalos na Iowa State University. Mas o assim chamado pentelho de um modo geral estava certo em suas críticas das táticas de debate de Craig. Ele não tanto “pentelhou” como na verdade listou falácias específicas da parte de Bill Craig. Dr. Craig afirmou não se importar em repreender o Dr. Avalos por suas alegadas táticas condenáveis; assim, por que ele não se referiu à sua própria atitude como “pentelhar”?

2. William Lane Craig afirmou que o Dr. Avalos era chefe do Departamento de Estudos Religiosos da Iowa State University: isto é patentemente falso. Dr. Avalos não é nem nunca foi chefe do Departamento de Estudos Religiosos nem da Iowa State University nem de nenhuma outra instituição. Isso poderia ter sido um equívoco insignificante, mas Craig tenta usar esta fictícia posição de liderança para insinuar que Hector Avalos exerce alguma influência perniciosa indevida sobre seus alunos. Vocês-sabem-quem repetiu esta mentira em seu blog. Além disso, mesmo sendo um errinho bobo, o que isto diz acerca do respeito que o Dr. Craig tem pela verificação elementar dos fatos? O currículo acadêmico do Dr. Avalos pode ser encontrado facilmente através do Google, mas Craig aparentemente nem essa preocupação teve. E só para constar, o nome formal do departamento ao qual o Dr. Avalos pertence é Departamento de Filosofia e Estudos Religiosos.

3. Craig afirmou: “Avalos se apresenta como um ex-evangélico e um ex-pastor. Isto é francamente um exagero quando se olha sua biografia pessoal. Mas é assim que ele gosta de se projetar.” Ou Avalos é um ex-evangélico ou não é. Ou ele é um ex-pastor ou não é. Como é que um fato desses pode ser exagerado? Dr. Craig não nos diz o que foi exagerado. E o que ele tem em mente quando fala em dar uma olhada na biografia pessoal do Dr. Avalos? Avalos não se lembra de ter tido contato com Craig em nenhum momento daquele período de sua vida. Ou seja, Craig mais uma vez lança esta acusação sem nenhum outro fato que a respalde.

4. Craig afirma que basicamente o objetivo do Dr. Avalos é destruir a fé ortodoxa de seus alunos cristãos através de críticas, intimidação e ridicularização (e vocês-sabem-quem repetiu esta acusação em seu blog).

Não foi oferecido a menor prova para esta acusação. Craig (e seu papagaio tupiniquim) nunca assistiram a uma aula do Dr. Avalos, e portanto não podem ter verificado isto por si próprios. Se estão se baseando em depoimentos de outras pessoas, isso não passa de “ouvir dizer”. (A ambos será concedido o benefício da dúvida e não será cogitada a hipótese de que tenham inventado essa história.) Como pode a utilização de boatos para levantar uma acusação tão grave ser uma conduta ética ou profissional?

A verdade é que o Dr. Avalos usa abordagens muito diferentes quando fala sobre estas questões dentro e fora da sala de aula. Com suas turmas, utiliza uma abordagem de várias perspectivas que tem sido muito eficaz. Fora da sala de aula, defende seus pontos de vista com a máxima contundência que seus direitos constitucionais lhe permitem. Eis mais alguns fatos:

A. Avalos recebeu o prêmio de Professor do Ano da Iowa State University em 1996, concorrendo com todos os outros professores da ISU. A premiação foi uma iniciativa de seus alunos cristãos.

B. Embora nenhum professor seja aprovado por 100% de seus alunos, e embora não se possa afirmar que todos se sintam da mesma forma, o Dr. Avalos geralmente é um dos professores mais bem avaliados de seu departamento. Em geral, entre 70 e 80 porcento de seus alunos conferem-lhe a nota máxima nos quesitos avaliados.

Em algumas ocasiões, 100% de seus estudantes deram-lhe a mais alta nota possível, o que seria impensável se Avalos agisse da forma como Craig descreve. E os que o descrevem como intimidador o fazem sobretudo pelo rigor com que Avalos os cobra academicamente, não por qualquer esforço de sua parte em destruir a fé de seus alunos.

Naturalmente, Craig nunca viu estas avaliações feitas pelos estudantes, e portanto é difícil compreender como ele pode ter tão pouca consideração pela mais elementar honestidade antes de fazer uma acusação dessas.

C. Mesmo que o Dr. Avalos não recomende  olhar o Rate My Professor por ser uma amostra pouco representativa e o status dos estudantes ser de difícil de verificação, as avaliações e os comentários lá presentes em geral refletem as pontuações que recebe oficialmente.

D. Avalos jamais recebeu uma queixa formal contra sua docência em seus 19 anos na ISU. Mais de 2000 alunos já passaram por suas disciplinas, a maioria deles cristãos. Portanto, como uma trajetória profissional de 19 anos sem uma única queixa sequer ajuda Craig a montar seu caso? E mesmo se ele encontrasse tais estudantes, suas reclamações teriam que ser investigadas mais acuradamente antes de serem consideradas “fatos”.

5. Craig disse: “Avalos também se comporta de maneira pouco profissional nestes debates, recorrendo a ataques ad hominem… Isto parece diferir de seus comentários após o debate citados na edição de 6 de Fevereiro de 2004 do Jornal da ISU: “Craig disse que apreciou muitíssimo o diálogo com Avalos e não considerou haver qualquer desavença entre eles. ‘Tanto Avalos como eu conduzimo-nos com o tom e o comportamento adequados’, Craig disse.

Portanto, teria Craig dito a verdade, ou ele foi citado erroneamente?

6. Craig disse: “Eu me senti muito desconfortável ao fazer isso porque de certa forma eu o estava atacando por seus métodos, por seu modus operandi, mas julguei que devia faze-lo já que eu era o primeiro a falar e não queria ser vítima de um de seus truques… como o que eu o vi executar contra o professor Shelly num debate anterior…”

Craig está se referindo a um debate a um debate entre Avalos e o Dr. Rubel Shelly ocorrido em 1998. Neste debate, Avalos projetou fotos de alguns manuscritos do Novo Testamento e pediu que seu oponente os identificasse. A razão pela qual Avalos o fez foi que Shelly os havia utilizado como parte das evidências para a confiabilidade do texto do Novo Testamento; mais especificamente, Shelly afirmou que atualmente dispomos de manuscritos “completos” do NT, e citou os manuscritos P66 e P75 como exemplos:

Nos últimos anos, a Bodmer Library of Geneva publicou uma edição completa do Evangelho de João (p66) datada de cerca de 200 d.C. … O texto completo dos evangelhos de Lucas e João, datados entre 175 d.C. e 225 d.C, foram publicado pela Bodmer Library (p75). (Rubel Shelly, Prepare To Answer, 1990, p. 139)

O esperado era que Shelly, como todo bom acadêmico é obrigado a fazer, tivesse no mínimo verificado as fontes originais para confirmar a acurácia desta afirmação. Então Avalos expôs a imagem dos manuscritos na tela diante da platéia e perguntou-lhe se sabia do que se tratava. Ele não sabia. Avalos então perguntou-lhe se eles pareciam completos, mesmo não sabendo do que se tratava. Shelly então disse que eles não pareciam completos. De fato, P75 não está completo, e em alguns pontos encontra-se bastante fragmentário.

Ou seja, o que Avalos fez foi refutar efetivamente a afirmação de Shelly diante da platéia. Agora, alguém pode explicar por que isto se configura como uma “conduta reprovável” em vez da boa e velha expertise em debates?

Na verdade, Shelly se saiu tão mal naquele debate e suas credenciais como estudioso da Bíblia foram tão irrecuperavelmente arruinadas que Craig foi até a Iowa State University em 2004 para “nocautear” Avalos, nas palavras de sua fanbase. Entretanto, como todos podem ver, Avalos ainda está na ativa, a todo vapor.

Além disso, Craig distorceu completamente a questão da disponibilidade dos manuscritos. Fotos e cópias destes manuscritos fazem parte de quase todos os bons livros didáticos sobre crítica textual do NT e também de algumas enciclopédias bíblicas. Isso também significa que você é sem sombra de dúvidas um amador terrivelmente incompetente e mal informado se não sabe nem isso.

Algumas das cópias exibidas por Avalos foram retiradas do livro de Jack Finegan Encountering New Testament Manuscripts: A Working Introduction to Textual Criticism (Grand Rapids, MI: W. B. Eerdmans, 1974). Portanto, não é verdade que você precisa ir a uma câmara climatizada de segurança máxima num museu da Europa ou do Oriente Médio se quiser examinar os manuscritos. As fotos são boas o suficiente para ver se os manuscritos estão ou não completos.

Especificamente sobre este debate entre Avalos e Craig, este último começou muitíssimo bem, mas terminou bastante debilitado. Seu discurso de encerramento foi utilizado para conceder no mínimo duas vezes que ele havia cometido erros em virtude de seus conhecimentos insuficientes do aramaico ao argumentar a favor da ressurreição em seu livro Assessing the New Testament Evidence for the Historicity of the Resurrection of Jesus…).

Dr. Craig tentou minimiza-los como “bagatelas”, mas essa minimização é inútil para os que o leram e sabem como pelo menos um de seus argumentos assenta-se sobre o aramaico. Quem ler seu Reasonable Faith (p. 275) verá que ele tenta datar o Evangelho de Marcos por volta da época dos discípulos utilizando a suposta expressão em aramaico da Galiléia em Marcos 16:2 (“no primeiro dia da semana”). Ele então usa a suposta ligação direta com a época dos discípulos para respaldar seu FATO 1 (Jesus foi enterrado e seu FATO 2 (a tumba vazia). O que ele não diz a seus leitores, e do que ele tentou se esquivar no debate, é que ele estava lhes vendendo textos em aramaico não-galileanos de uma época posterior, talvez até mesmo medievais, como textos do aramaico da Galiléia do primeiro século. Obviamente, isso não é nem intelectualmente respeitável nem intelectualmente honesto – para não mencionar o fato de que isso torna uma das evidências que suportam seus FATOS 1 e 2 completamente fraudulenta.

Há outro caso em que Craig distorce uma citação, dessa vez do historiador judeu Flávio Josefo. Vejam a citação que ele ofereceu no debate:

Aprendemos de Josefo que Tiago foi finalmente martirizado por sua fé em Jesus Cristo durante um hiato no governo civil na metade dos anos 60. Fonte: Paul Copan and Ronald K. Tacelli, eds. Jesus’ Resurrection: Fact or Figment? (Downer’s Grove, Illinois: InterVarsity Press 2000) p. 190.

Comparem com o que Josefo realmente escreveu, de acordo com as melhores edições de sua obra:

Ananias pensou que tinha uma oportunidade favorável… e assim convocou os juízes do Sinédrio e trouxe diante deles um home chamado Tiago, o irmão de Jesus que foi chamado o Cristo, e outros. Ele os acusou de ter violado a lei e os entregou para serem apedrejados. Fonte: Josephus, Jewish Antiquities XX.200-201. Edition and Translation of L. H. Feldman (Loeb Classical Library: Cambridge: Harvard University Press, 1965), pp. 106-109.

Craig acrescentou sua própria idéia do que Josefo teria dito. E então usa esta tradição inventada para apoiar seu FATO 4 (a origem da crença dos discípulos). Distorções e deturpações semelhantes permeiam as evidências que respaldam cada um de seus 4 FATOS.

Na verdade, este tipo de falsa erudição é uma das razões pelas quais Dr. Craig não possui uma boa reputação como acadêmico fora de seu estreito círculo de apologistas. Sua função é mais a de confortar os fiéis, mostrar-lhes que é possível acreditar em superstições de pescadores ignorantes que viveram há dois mil anos atrás e ainda assim conseguir dois doutorados, do que converter os infiéis que realmente conhecem bem as fontes primárias.

Também não parece que neste debate Craig se beneficiou de sua alegada especialização em filosofia. Sua suposta refutação do “naturalismo” pareceu bastante inconsistente quando Avalos assinalou que ele age como um perfeito naturalista quando se trata de outras religiões, ou mesmo em relação aos milagres relatados em Mateus 27:52-53. Talvez algum de seus admiradores seja capaz de explicar porque ele não chama as ressurreições em Mateus 27:52-53 de “fatos”, mas chama a ressurreição em Marcos 16:6 de “fato”. Porque o próprio Craig certamente não explicou e nem pode explicar quais são as diferenças.

Se William Lane Craig é o melhor que a comunidade de apologistas cristãos tem a oferecer, este debate contra o Dr. Avalos foi um episódio triste para na  história da apologética. Ele mostrou não somente mais um apologista completamente ineficaz contra um estudioso da Bíblia ateu, como também um apologista praticamente admitindo que seus conhecimentos das fontes primárias e línguas antigas estão abaixo dos padrões mínimos.

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A primeira vista pode parecer que estou apenas quebrando minha promessa de não mais citar nem responder aos ataques vindos de vocês-sabem-quem, e de certa forma realmente é o que estou fazendo. Entretanto, meus motivos para faze-lo vão muito além do mero gosto pela contenda (completamente estéril e contraprodutiva em se tratando de vocês-sabem-quem). Acontece que, como sabe a maior parte dos que estão agora lendo isso, em maio último traduzi e publiquei um capítulo do livro The Christian Delusion escrito pelo Dr. Avalos. Uma minoria, se tanto,  viu que o Dr. Avalos em pessoa deixou um comentário agradecendo a tradução, que pode ser visto aqui. Sei que se trata do autêntico Dr. Hector Avalos porque ele também deixou um agradecimento na página do blog no Facebook:

 Ele também compartilhou o link para a tradução no mural de seu perfil:

Agora vem a melhor parte da história. Quem leu o artigo sobre ateísmo e Holocausto se lembra de que os primeiros parágrafos mencionam um capítulo de outro livro do Avalos, Fighting Words, em que ele discute com mais profundidade a relação entre ateísmo e violência no regime stalinista. Pois bem, não sei quanto a vocês, mas eu fiquei muitíssimo interessado neste capítulo; como o Dr. Avalos não se conteve ao expressar sua gratidão pela minha tradução, imaginei que ele provavelmente gostaria de ter outra parcela de seu trabalho divulgada em língua portuguesa, e enviei-lhe um email me apresentando e explicando meus motivos para manter este blog e fazer estas traduções (em parte, o descaso do mercado editorial lusófono para com seu público de céticos, agnósticos e ateus), e perguntando se ele não poderia me enviar o texto do referido capítulo de Fighting Words. Isto foi um pouco constrangedor porque apesar de ler e traduzir razoavelmente bem, minha proficiência deixa muito a desejar na hora de ouvir, falar ou escrever; então antes de mais nada comecei pedindo desculpas por eventuais erros. Ele foi muito compreensivo, gentil e solícito, e sabem qual foi sua resposta a meu pedido? Em vez de me enviar somente o texto do capítulo solicitado ele me presentou com um exemplar inteiro do livro (com uma singela dedicatória na folha de rosto, claro _ For Gilmar, a new friend from Brazil. Dr. Hector Avalos, 14 July, 2012)! Acreditam nisso? Bom, se não acreditam o problema é de vocês; de qualquer maneira, nos próximos dias publicarei a tradução do capítulo sobre ateísmo e violência stalinista. E também, para evitar outras situações tão ou mais embaraçosas do que essa no futuro, começarei um curso de inglês. Não quero que me aconteça o mesmo que aconteceu com William Lane Craig, que foi refutado em público por não dominar a língua original dos textos com os quais trabalha.

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Nos comentários do post “Mais uma refutação ao poderoso OTF…“, um dos discípulos do profeta apocaliptista travestido de ateu conservador Luciano Ayan  (ele jura que é operado, mas vai até a lua e volta espumando de ódio toda vez que alguém acerta uma pancada contundente em suas intimidades religiosas) fez uma “contribuição de altíssimo nível“, expondo a todos um suposto debate que um suposto John W. Loftus supostamente teria perdido. Desde então Luciano Ayan vem fazendo anúncios bombásticos de uma vindoura refutação humilhante ao OTF, como pode ser visto nos dois screenshots abaixo (coloquei as fontes nas legendas, mas é altamente provável que ele adultere seus posts ao ver sua alegria de pobre abortada e me acuse de te-lo fraudado):

 O motivo dessa hybris pode ser visto nesta arena virtual aqui. Thrasymachus, o desafiante, não faz nada além de reciclar objeções que alguns apologistas já haviam levantado anteriormente, e às quais o autêntico Loftus já havia respondido _ vejam os comentários deste post do blog do Thrasymachus. Observem também como o próprio Thrasymachus, no terceiro round do debate, em vez de comemorar a vitória suspeitosamente fácil, preferiu considerar altamente provável que o perfil que aceitara seu desafio na verdade pertencia a um fake, suspeita que ele já aventara no começo do segundo round ao solicitar que o outro debatedor lhe enviasse alguma confirmação de que era o autêntico Loftus.

O cristão enrustido, naturalmente predisposto a se agarrar à literalmente qualquer bobagem que alguém fale ou escreva em defesa de sua fé e numa atitude típica de pessoas iludidas, levou em consideração só o que lhe era favorável e ignorou o que era de fato relevante. Se fosse o cético full-blown que se jacta de ser a cada duas linhas de seus posts, teria se poupado mais esse constrangimento. V.V., obrigado por propiciar mais essa oportunidade de expor ao ridículo o macho-alfa dos conservopatas.

Quanto à objeção levantada pelo Thrasymachus contra o OTF, trata-se da famigerada e abusada falácia genética, que consiste em afirmar que uma crença é falsa em virtude do modo como foi adquirida. É a quinta das objeções respondidas abaixo. Além disso, observem que o OTF é um argumento indutivo, probabilístico, não um argumento dedutivo. Ele deixa em aberto a possibilidade de que alguma fé religiosa seja verdadeira apesar de adquirida por um processo não confiável de formação de crenças.

Quanto ao Luciano Ayan, este é o último post em que esse infeliz ou algum de seus textos é mencionado aqui no Rebeldia Metafísica. Continuar a faze-lo seria desmerecer o excelente trabalho de desconstrução da equipe do Blog do Mensalão (recomendo a leitura dos seguintes textos: O que é Controle de Frame, Sou ateu parte 1B: Jeremias e Marcelo Rizzo, Uma “breve” biografia de Luciano Ayan). Como meu presente pessoal de despedida, deixo a ele este link  e uma canção que decerto lhe serão úteis no estágio terminal em que se encontra:

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Um: Os crentes religiosos objetarão em uníssono que o OTF não mostra que sua religião particular é falsa simplesmente por ser um fato sociológico incontestável que acreditamos baseados em acidentes históricos e geográficos. William Lane Craig indaga, “Como a mera presença de visões de mundo incompatíveis com o Cristianismo mostra que alegações distintivamente cristãs não são verdadeiras? Logicamente, a existência de reivindicações de verdade múltiplas e incompatíveis implica apenas que todas elas não podem ser (objetivamente) verdadeiras;  mas seria obviamente falacioso inferir que nenhuma delas é (objetivamente) verdadeira.” Ele está certo sobre isso, assim como os muçulmanos e os mórmons que podem dizer a mesma coisa em relação a suas respectivas fés. Afinal, alguém pode estar certo por nenhuma outra razão além da sorte de nascer na época e no lugar certo.

Mas como você justifica racionalmente tal sorte? Foi por isto que desenvolvi o desafio do teste do infiel em primeiro lugar, para testar as fés religiosas contra tal sorte. Se o teste entre fés religiosas é baseado inteiramente na sorte, então quais são as chances, baseado apenas na sorte, que a seita específica do Cristianismo à qual alguém adere seja a correta?

Dois: Objeta-se que existem minorias ínfimas de pessoas que escolheram ser teístas cristãos que nasceram e cresceram em países muçulmanos e que as pessoas podem escapar de sua fé culturalmente adotada. Isto é verdade. Mas estas são as exceções. Os teístas cristãos respondem me pedindo para explicar as exceções. Estou pedindo que eles expliquem a regra. Por que crenças religiosas específicas predominam em áreas geográficas específicas? Por que isso ocorre?

Quando se trata destes convertidos, minha opinião é que a maioria deles não ponderou objetivamente as evidências quando fez seus compromissos religiosos iniciais. Eles mudaram sua maneira de pensar sobretudo devido à influência e à credibilidade do evangelizador e/ou da natureza fantástica e assombrosa do próprio relato religioso. Eles não dispunham de nenhum método inicial para realmente investigar a fé professada. Que evangelista falaria de maneira nua e crua sobre o lado negro da Bíblia e da Igreja enquanto prega as Boas Novas? Nenhum que eu conheça. Que evangelista apresenta um panorama dos inumeráveis problemas que os acadêmicos cristãos como vocês próprios da platéia enfrentam em encontros como este? Nenhum que eu conheça. Que evangelizador dá a um convertido em potencial uma cópia de um livro como o meu junto com uma cópia de um livro de apologética cristã e pede-lhe que leia os dois antes de tomar uma decisão? Mais uma vez, nenhum que eu conheça.

Três: Objeta-se que a mera discordância de pessoas racionais acerca de um tema não justifica o ceticismo acerca de uma afirmação específica. Ao contrário, penso que isso não somente pode justificar como de fato justifica o ceticismo. O grau de ceticismo justificado depende dos critérios que mencionei antes. Pessoas racionais não apostam contra a gravidade, por exemplo, porque há evidências para ela que foram aprendidas à parte do que lhes foi ensinado para acreditarem numa região geográfica distinta. Ela pode testa-la pessoalmente. Sustento que as crenças religiosas estão numa categoria diferente da dos resultados de experimentos científicos reprodutíveis, e que esta afirmação é tanto óbvia quanto incontroversa. De qualquer maneira, o ceticismo é melhor expresso num continuum. Algumas alegações de crença justificarão um ceticismo maior do que outras. Afirmo que crenças religiosas provavelmente justificam o mais elevado grau de ceticismo considerando-se os fatos sociológicos. Correndo o risco de ofender os religiosos aqui, as crenças religiosas, como crenças em elfos na Islândia, em trolls na Noruega e no poder das bruxas na África, devem ser submetidas ao mais elevado grau de ceticismo considerando-se tanto a natureza extraordinária destas afirmações e como algumas destas crenças são adotadas em primeiro lugar.

Quatro: Alguém pode objetar que meu argumento se auto-destrói. Elas indagarão: “Minhas condições culturais ‘determinam’ esmagadoramente minha pressuposição cética? Se for o caso, então, como Alvin Plantinga pergunta, seriam minhas crenças igualmente ‘produzidas por um processo de produção de crenças não-confiável’? Se não, então por que razão eu penso que posso transcender a cultura mas um teísta cristão não pode transcender sua cultura?” Em resposta, penso ser extremamente difícil transcender nossa cultura porque, como mencionei antes, elas nos dota com os próprios olhos com os quais vemos. Mas precisamente porque sabemos a partir de estudos psicológicos e antropológicos que isto é o que a cultura faz por e para nós, é possível transcender a cultura em que fomos criados.

[Exemplo] Sabemos que as pessoas não percebem sensorialmente a realidade como ela realmente é. O que vemos é filtrado por nossos olhos. O que ouvimos é filtrado por nossos ouvidos. Vemos e ouvimos apenas uma quantidade muito limitada dos dados do mundo. Mas se víssemos e ouvíssemos o espectro sônico e eletromagnético inteiro nós basicamente veríamos e ouviriamos ruído branco. Sabemos disso mesmo não sendo capazes de realmente ver ou ouvir o ruído branco por nós mesmos. Também sabemos que o chão sobre o qual caminhamos move-se como um enxame de abelhas no nível microscópico. Assim, é o conhecimento científico sobre o mundo que nos leva a sermos céticos sobre o que vemos e ouvimos.

O mesmo pode ser dito quando se trata de estudos psicológicos e antropológicos mostrando que deveríamos ser céticos em relação ao que somos levados a acreditar, apesar de sermos incapazes de realmente ver qualquer coisa acerca de nossas crenças sobre as quais deveríamos ser céticos. E o OTF é sem dúvidas um teste que podemos propor para examinar nossas crenças culturalmente adotadas.

A verdade é que meu argumento definitivamente não se autodestrói. Ele sugere que deveríamos duvidar do que acreditamos. Não é autodestrutivo dizer quais são as chances de que estejamos errados. Afinal, estamos falando sobre as probabilidades aqui. O filósofo agnóstico J.L. Schellenberg lida come este mesmo tipo de críticas nestes termos: “agora, esta objeção pode ser sólida se meus argumentos de fato forem aplicáveis a si próprios, e não é preciso muito para vermos que tal não é o caso.” Pois existe uma diferença colossal entre defender um sistema de crenças religiosas como o único e exclusivo sistema correto, e negar que um sistema de crenças religiosas seja justificado. Sua afirmação é que os adeptos de qualquer sistema de crenças religiosas dado “não foram bem-sucedidos em montar seu caso; ele nos compele a continuar a investigação… porque o ceticismo sempre é uma posição de último recurso em contextos de busca da verdade.”

Cinco: ao afirmar que fés religiosas são adotadas esmagadoramente por “acidentes de nascimento”, terei cometido a falácia genética, uma falácia informal de irrelevância? Esta falácia é cometida sempre que se argumenta que uma crença é falsa devido ao modo como se originou.

Eu não considero a falácia genética tão significativa quanto as pessoas pensam que é, especialmente em contextos religiosos. Se alguém acredita de maneira paranóica que a CIA o está espionando e descobrimos que a gênese (ou origem) de sua crença remonta ao consumo de uma droga alucinógena como o LSD, então possuímos evidências realmente boas para sermos céticos em relação a sua crença paranóica, apesar de não termos realmente demonstrado a falsidade de sua crença de qualquer outro modo, e apesar de ao procedermos assim alguém poder nos acusar de cometer a falácia genética. Portanto, de maneira similar, se podemos determinar que as origens das formas mais primitivas de Cristianismo foram criadas puramente por seres humanos antigos supersticiosos, possuímos boas bases para sermos céticos. Mas ainda mais importante para o caso, se todas as nossas crenças são completamente determinadas por nosso ambiente então esse é o caso independente do fato de que ao argumentar em defesa disso comete-se a falácia genética.

Todavia, não há nenhuma falácia genética aqui, a menos que ao explicar como os fiéis primeiro adotam sua fé eu em seguida concluísse que tal fé é falsa. Não estou afirmando que essas fés são falsas em virtude de como os crentes originalmente as adotam. Estou apenas defendendo que os crentes deveriam ser céticos a respeito de suas fés religiosas culturalmente adotadas em virtude de como eles primeiro vieram a adota-las.

Seis: Uma última objeção pergunta se isto tudo não seria circular. Teria eu meramente escolhido um sistema de crenças metafísicas diferentes baseado em fatores culturais diferentes? Eu nego que isto seja verdade, pois tenho fundamentos iniciais muito bons para começar com o ceticismo baseado em fatos sociológicos, antropológicos e psicológicos. Os procedimentos metodológicos são aqueles testes que utilizamos para investigar alguma coisa. Como procedemos ao investigar alguma coisa é uma questão separada que deve ser justificada em seus próprios termos, e eu tenho feito isto aqui. Uma pessoa não pode dizer que devo ser tão cético acerca do Teste Da Fé do Infiel quanto sou acerca das conclusões a que cheguei quando apliquei o teste, já que justifiquei o teste a partir dos fatos. Deve-se primeiro discutir o teste do infiel em seus próprios termos.

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[O texto a seguir é uma adaptação, para uma palestra proferida por John W. Loftus em março de 2009 num encontro da Evangelical Philosophical Society, do capítulo “The Outsider Test Of Faith” da primeira edição de seu livro Why I Became An Atheist]

Quando se trata de avaliar as reivindicações de veracidade do teísmo cristão, a pergunta mais importante de todas é se deveríamos abordar as evidências disponíveis pelas lentes da fé ou do ceticismo. A neutralidade completa e absoluta, embora desejável, parece ser praticamente impossível, já que a visão de mundo que utilizamos para avaliar as evidências preexiste ao olhar sobre as evidências. Assim, a questão que abordarei hoje é se deveríamos adotar uma predisposição religiosa ou cética antes de examinarmos as evidências para um sistema de crenças religiosas. Defenderei que a adoção de uma predisposição cética é a melhor escolha.

Meu Teste da Fé Do Infiel (Outsider Test Of Faith no original, doravante OTF) é apenas um dos vários argumentos que utilizo para demonstrar que ao examinarmos as evidências para um sistema de crenças religiosas uma predisposição cética é mais do que justificada. Existem evidências esmagadoras, inegáveis e incontroversas para o próprio teste que podem ser encontradas em bancos de dados sociológicos, antropológicos e psicológicos. Começarei com alguns dos dados que constituem os fundamentos para o teste. Então descreverei o teste, oferecerei alguns exemplos do que ele exige do fiel, e o defenderei contra seis objeções principais.

Existe um debate acalorado entre os apologistas cristãos sobre os “fatores de fundo” bayesianos, fatores que desempenham um papel significativo na avaliação da verossimilhança do Cristianismo em geral, da probabilidade da ressurreição de Jesus, da probabilidade da ocorrência de milagres, e do problema do mal. Mas o fator de fundo mais importante de todos para avaliarmos cognitivamente as reivindicações de verdade da fé religiosa é o plano de fundo sociológico e cultural.

O fundamento para o Teste do Infiel foi enunciado com muita propriedade pelo filósofo liberal cristão John Hick: “É evidente que em aproximadamente 99% dos casos a religião que um indivíduo professa e à qual ele adere depende de acidentes de nascimento.” Ou seja, se tivéssemos nascido na Arábia Saudita, hoje seríamos muçulmanos sunitas. Se tivéssemos nascido no Irã, seríamos muçulmanos xiitas. Se tivéssemos nascido na Índia, seríamos hindus. Se tivéssemos nascido no Japão, seríamos xintoístas. Se tivéssemos nascido na Mongólia, seríamos budistas. Se tivéssemos nascido no primeiro século a.C. em Israel, seríamos adeptos da fé judaica daquela época, e se tivéssemos nascido na Europa do ano 1000 d.C., seríamos católicos romanos. Pelos primeiros nove séculos do primeiro milênio da era comum, teríamos acreditado na teoria do resgate como explicação do modo como funciona o sacrifício de Jesus. Como os cristãos que viveram durante a Idade Média tardia, não veríamos nada de errado em queimar bruxas, torturar hereges e reconquistar Jerusalém dos “infiéis” nas Cruzadas. Estas coisas estão o mais próximo possível de serem fatos inegáveis a que se pode chegar no universo sociológico.

Houvéssemos nós vivido no Egito antigo ou na Babilônia, teríamos sido muito supersticiosos e politeístas até a medula. No mundo antigo, teríamos buscado orientação divina através da adivinhação, tentado alterar as circunstâncias por meio de mágicas e acreditado no temível mau-olhado.

Existe toda uma gama de temas e questões que admitem a diversidade também na política e na moral, diversidade esta baseada sobretudo em “acidentes de nascimento”. Homens caucasianos americanos teriam acreditado, como o presidente Andrew Jackson, no destino manifesto, nosso mandato outorgado por Deus para confiscarmos os territórios dos nativos americanos na expansão em direção ao Oeste. Ao longo do século 17 teríamos acreditado que as mulheres eram intelectualmente inferiores aos homens, e consequentemente não teríamos permitido que recebessem a mesma educação ministrada aos homens, e muito menos que votassem. Como Thomas Jefferson e a maioria dos americanos, teríamos pensado desta maneira a respeito das pessoas negras também, que elas eram intelectualmente inferiores aos brancos, ao passo que se tivéssemos nascido nos Estados do Sul, teríamos justificado a escravidão citando a Bíblia. Se no mundo de hoje tivéssemos nascido na Faixa de Gaza palestina, odiaríamos os judeus e provavelmente desejaríamos mata-los todos.

Estes tipos de crenças religiosas, morais e políticas, baseadas em condições culturais, podem ser multiplicadas numa extensa lista de crenças que manteríamos se tivéssemos nascido numa época e/ou num local diferentes. Voltaire estava certo: “Todo homem é uma criatura da época em que vive, e poucos são capazes de elevar-se acima das idéias de seu tempo.

Condições sociais nos municiam com as crenças de controle iniciais que utilizamos desde o primeiro momento para integrar todas as nossas experiências e fatos conhecidos. Esta é a razão pela qual elas são chamadas de crenças de controle. Elas são semelhantes a viseiras. A partir do momento em que as colocamos, vemos muito bem apenas o que nossas viseiras permitam que vejamos, porque a razão e o entendimento são utilizados sobretudo a serviço destas viseiras.

Michael Shermer, um ex-cristão que tornou-se ateu, empreendeu um estudo abraangente das razões pelas quais as pessoas acreditam em Deus e em “coisas estranhas”. Ele afirma: “A maioria de nós a maioria das vezes formamos nossas crenças por uma variedade de razões que tem muito pouco a ver com evidências empíricas e raciocínio lógico. Em vez disso, variáveis como predisposições genéticas, predileções paternas, influências fraternas, pressão dos colegas, experiências educacionais e impressões da vida, todas estas coisas moldam as preferências pessoais e as inclinações emocionais que, combinadas com numerosas influências sociais e culturais, levam-nos a adotar certas crenças. Raramente qualquer de um de nós senta-se diante de uma tabela de fatos, pesa os prós e os contras e escolhe a crença mais lógica e racional, independentemente do que acreditávamos anteriormente. Em vez disso, os fatos do mundo nos alcançam através dos filtros coloridos das teorias, hipóteses, intuições, vieses e preconceitos que acumulamos ao longo de nossa vida. Então ordenamos a massa de dados e selecionamos aqueles que mais confirmam o que já acreditamos, e ignoramos ou racionalizamos os que nos desmentem. Todos fazemos isto, é claro, mas pessoas inteligentes são melhores nisso.

O filósofo cristão Robert McKim concorda em alguns aspectos. Ele escreveu: “Ao que parece possuímos uma admirável capacidade para encontrar argumentos que respaldam as posições que mantínhamos anteriormente. Nossa razão é, em larga escala, uma escrava de nossos compromissos prévios.” Consequentemente, a noção inteira de um “julgamento racional independente” é suspeita, ele afirma. Não estamos aqui negando que os apologistas cristãos defendem sua fé com razões. É claro que eles o fazem. Estes apologistas, quando bons no que fazem, são pessoas inteligentes. Porém, como Michael Shermer também nos lembra, “pessoas inteligentes, justamente porque são mais inteligentes e mais bem educadas, são capazes de dar razões intelectuais justificando as crenças que vieram a adotar por razões não-inteligentes.

A psiquiatra Dra. Valerie Tarico descreve o processo de defesa de crenças não-inteligentes por pessoas inteligentes. Ela afirma, “não são necessárias muitas hipóteses falsas para que nos engajemos numa demorada caça ao ganso.” Para ilustrar isto ela nos conta sobre o mundo mental de um esquizofrênico paranóico. Para uma pessoa assim a sensação de estar sendo perseguida pela CIA parece real. “Você pode sentar, como um psiquiatra, com um manual de diagnóstico próximo a você, e pensar: por mais bizarro que isso soe, a CIA realmente está na cola deste cara. Os argumentos são coesos, a lógica persuasiva, as evidências esmeradamente catalogadas. Tudo o que é preciso para erguer tal impressivo castelo de ilusões é uma mente clara e bem organizada e um punhado de hipóteses falsas. Indivíduos paranóicos podem ser bastante verossímeis.” Em sua opinião, é isto que os cristãos fazem e o que melhor explica por que é tão difícil abalar a fé evangélica. Eu não espero, é claro, que os cristãos concordem com ela que isto é o que fazem, mas a esta altura eles não podem negar que pessoas de fé religiosa fazem isto. O que explicaria de modo mais satisfatório porque ainda existe uma igreja Mórmon agora que as evidências genéticas demonstram conclusivamente que os nativos americanos não vieram do Oriente Médio?

Eu investiguei minha fé de dentro, enquanto a professava presumindo que fosse verdadeira. Mesmo de uma perspectiva interna com o sistema de crenças de controle cristão, eu não fui capaz de continuar a acreditar. Agora, de fora, ela não faz absolutamente nenhum sentido. Os cristãos estão do lado de dentro. Agora estou do lado de fora. Os cristãos veem as coisas de dentro. Eu vejo as coisas de fora. De dentro, ela parece verdadeira. De fora, ela parece quase bizarra. Como Mark Twain sabiamente disse, “A fácil confiança com que eu sei que a religião de outro homem é uma tolice insensata me ensina a suspeitar que a minha própria também é.

Esta questão da perspectiva interna/externa é quase um dilema e prontifica me a propor e argumentar em favor do OTF, cujo resultado torna a pressuposição do ceticismo a postura preferível quando abordamos qualquer fé religiosa, especialmente a que se professa. O Teste do Infiel é simplesmente um desafio para testar a própria fé religiosa com a presunção do ceticismo, como alguém que dela não partilha. Ela exorta os fiéis: “Teste ou examine suas crenças religiosas como se você não as professasse com a mesma presunção de ceticismo que você utiliza para testar ou examinar outras crenças religiosas.” Seu pressuposto é que quando examinamos qualquer sistema de crenças religiosas o ceticismo é justificado, já que há boas chances de que o sistema de crenças religiosas particular do qual você é adepto seja falso.

O OTF  não é diferente do que fez o príncipe na história da Cinderella, que precisou interrogar quarenta e cinco mil garotas para descobrir qual delas perdeu o sapatinho de cristal no baile da noite anterior. Todas afirmavam ser a dona do sapatinho. Portanto, definitivamente, o ceticismo é justificado. Isto é o caso especialmente quando não se dispõe de um pé correspondente empírico.

O grau de ceticismo justificado depende do número de pessoas racionais que discordam, se as pessoas que discordam encontram-se separadas em regiões geográficas distintas, a natureza dessas crenças, como elas se originaram, como elas foram pessoalmente adotadas em primeiro lugar, e os tipos de evidências que podem possivelmente ser utilizadas para decidir entre elas. Minha afirmação é que quando se trata de crenças religiosas um elevado grau de ceticismo é justificado em virtude destes fatores.

Seguramente alguém objetará inicialmente que isto é completamente draconiano em seu escopo. Por que assumir uma posição tão extrema? Eis a resposta: devido a como pessoas religiosas abordam todas as outras fés religiosas exceto a sua própria. Se alguém afirma não ser capaz de fazer isso porque ninguém pode testar qualquer coisa sem pressupostos de algum tipo, então este teste desafia o crente a substituir provisoriamente seus pressupostos. Se ele não puder realmente fazer isso, então deixe-me sugerir-lhe fazer o que René Descartes fez com uma dúvida metodológica (ou hiperbólica), apesar de eu não estar sugerindo este tipo de dúvida radical. Considere hipoteticamente sua fé da perspectiva de alguém que dela não partilha.

Se o crente se recusar a fazer isto então ele deve justificar a utilização de tal padrão duplo. Por que ele testa outras crenças religiosas de maneira diferente das suas próprias? Para alguém objetar que o que estou pedindo é injusto, ele tem o ônus da prova de mostrar por que razão sua abordagem inconsistente à fé religiosa é justificada em primeiro lugar.

Estou disposto a reconhecer que o que estou pedindo é uma coisa dificílima de se fazer. Isto porque, como o antropólogo Dr. David Eller explica, nossas crenças culturalmente herdadas são os olhos com que vemos o mundo. Não vemos a cultura. Vemos com a cultura. Nossas crenças culturalmente herdadas são quase como nossos próprios olhos. Não podemos facilmente arrancar nossos olhos para olha-los. Mas devemos tentar isto se desejarmos sinceramente examinar aquilo que nos foi ensinado a acreditar. Apenas os honestos, os consistentes e os corajosos alguma vez farão isso.

Para o teísta cristão o desafio do teste do infiel implica não mais poder citar a Bíblia para defender a alegação de que a morte de Jesus na cruz nos salvou dos pecados. O teísta cristão agora deve tentar explicar isso racionalmente. Não mais citar a Bíblia para mostrar como é possível que Jesus seja 100% Deus e 100% homem sem deixar nenhuma ponta solta. O teísta cristão deve agora tentar dar sentido a esta afirmação, como se ela proviesse de um povo antigo e supersticioso que não via problemas em acreditar que Paulo e Barnabé eram “deuses em forma humana” (Atos 14:11, 28:6). O teísta cristão também não deve presumir antes de examinar as evidências que existe uma resposta ao problema do sofrimento horrendo que existe em nosso mundo. E tem que ser inicialmente cético em acreditar em qualquer dos milagres relatados na Bíblia, assim como deveria ser cético acerca de qualquer alegação de ocorrência miraculosa nos mundo de hoje respaldando outras fés religiosas. Por que? Por que ele não pode começar acreditando na Bíblia, nem pode confiar que as pessoas próximas a ele que são teístas cristãos estejam de posse da verdade, nem confiar em suas próprias experiências religiosas anedóticas, já que tais experiências são vivenciadas por pessoas de todas as fés religiosas que diferem sobre o conteúdo cognitivo aprendido como resultado destas experiências. Ele desejaria evidências e razões para estas crenças.

O teste do infiel também desafia os fiéis a examinar as condições sociais e culturais em que vieram a adotar sua fé religiosa particular em primeiro lugar. Isto é, os fiéis devem interrogar a si próprios quem ou o que os influenciou e quais foram as verdadeiras razões para adotar sua fé em seus estágios primitivos. Cristão, apenas pergunte-se se as razões iniciais que você teve para adotar sua fé foram do tipo fortes. Apenas pense sobre os problemas que você vivenciou em suas igrejas  paralelamente aos problemas intelectuais com que você se digladiou em reuniões como essa. Se você pudesse voltar no tempo sabendo o que você sabe agora sobre como os cristãos se comportam na igreja você ainda escolheria acreditar? E aqueles argumentos iniciais que o converteram seriam considerados por você hoje simplórios e indignos de consideração. Apenas pergunte-se se você teria se tornado um mórmon, houvesse um daqueles jubilosos grupos de mórmons amistosamente te abordado naquela mesma época vulnerável de sua vida. A maioria de nós, a maior parte do tempo, não possui boas razões iniciais para aceitar nossa fé religiosa, que da época de sua adoção em diante atua como um um par de viseiras em relação a como vemos as evidências. Simplesmente terminamos acreditando no que nos foi dito para acreditar por pessoas em quem confiávamos numa cultura dominada pelo Cristianismo.

Na pior das hipóteses, um crente deveria estar disposto a submeter sua fé a um rigoroso escrutínio lendo algumas das mais conceituadas críticas à sua fé, muitas das quais foram escritas por outros crentes declarados e praticantes. A fé evangélica, por exemplo, pode ser concebida como uma pequena ramificação de um galho chamado Cristianismo, que por sua vez está ligado a uma árvore frondosa chamada religião. O debate começaria levantando-se a questão de qual Cristianismo representa o verdadeiro Cristianismo em nosso mundo hoje. Em seguida a fé cristã de hoje guarda pouca semelhança com as teologias e a ética dos Cristianismos do passado, e se assemelhará pouco aos futuros Cristianismos porque a fé cristã é como um camaleão, mudando continuamente com o progresso do conhecimento. Mas uma vez que o debate entre cristãos esteja estabelecido, por mais remota que seja essa possibilidade, o próximo debate é entre o Cristianismo e todas as outras religiões do planeta. Eu afirmo que os evangélicos não podem vencer o primeiro debate, muito menos o segundo. O antropólogo cultural david Eller está certo: “Nada é mais destrutivo para a uma religião do que as outras religiões; é como uma colisão com sua parcela gêmea de antimatéria“.

Não obstante, se após ter investigado sua fé religiosa com a presunção do ceticismo ela sobreviver à inspeção intelectual, então você pode manter sua fé religiosa. É simples assim. Se não, abandone-a como eu fiz. Suspeito que se alguém se dispuser a encarar o desafio do Teste do Infiel, então sua fé religiosa revelar-se-á problemática, frágil e vulnerável e ele a abandonará junto com todas as outras fés religiosas, como aconteceu comigo.

(…continua…)

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por Jaco Gericke

Assim como não é possível argumentar a favor da existência de Zeus através de especulações filosóficas sofisticadas, igualmente não se pode faze-lo em relação a Deus, também conhecido como Javé. Todavia, filósofos da religião cristãos que não mais acreditam em Javé conforme retratado no Antigo Testamento ainda são capazes de se apresentarem como crentes em “Deus”, uma versão atualizada da antiga divindade tribal multifacetada. Eles projetam as mais recentes metáforas tecnomórficas sobre a realidade; e lançando mão de um jargão sofisticado e uma abordagem genérica conferem às suas idéias um aspecto intimidador e quase respeitável. Mas o fato é que a filosofia da religião cristã por inteiro, seja ela filosofia analítica fundamentalista ou a mais pós-moderna versão da a/teologia continental, não passa de mitologia reconstrutiva. Tal discurso parece funcionar porque as pessoas se esquecem que Deus costumava ser Javé. Elas podem igualmemente tentar reabilitar qualquer antigo deus tribal, abrigando-o sob o guarda-chuva universal atualmente abraangido pelo conceito de divindade. Assim, qualquer filosofia da religião que presuma que o deus sobre o qual discorre seja em qualquer sentido basicamente a mesma realidade divina sobre a qual se fala no Antigo Testamento encontra-se em sérios apuros.

Em primeiro lugar, as concepções de Javé mantidas pela maioria dos filósofos da religião cristãos tendem a ser radicalmente anacrônicas e correspondem mais ao proverbial “Deus dos Filósofos” (Tomás de Aquino em particular) do que a qualquer versão de Javé representada na antiga religião israelita. Isto significa que nem mesmo os próprios filósofos cristãos acreditam nas concepções “bíblicas” pré-filosóficas de Javé, a crença em quem supõe-se ser apropriadamente básica. Suas noções sublimes de Deus em termos de “Simplicidade Divina”, “Grandeza Máxima”, e “Teologia do Ser Perfeito” são completamente alheias a várias caracterizações de Javé na narrativa bíblica (por exemplo, Gen. 18). Isto quer dizer que debates sobre o poder e o conhecimento de Deus e sua relação com o mal (etc.), sejam lá quais forem seus méritos lógicos, convenientemente ignoram o fato de que existem vários textos bíblicos que os contradizem (e que exibem representações da divindade em que os filósofos cristãos não acreditam).

O problema do mal é um pseudo-problema em vários textos do Antigo Testamento, em que Javé não era nem onipotente nem onibenevolente. Além disso, a capacidade de fazer o mal no sentido de ser destrutivo era de fato uma propriedade enaltecedora no teísmo antigo. Javé é poderoso exatamente porque ele pode fazer o mal quando deseja, seja ele natural, moral ou metafísico (veja Exod. 4:11; Lam. 3:38; Isa. 45:7; Amós 3:6; Ecles. 7:13–14; etc.). Os crentes de antigamente não eram tão mimados como os de hoje que acreditam que um deus tem que ser perfeitamente bom (leia-se “com uma interface amigável para o usuário”) para ser digno de adoração. O que tornava um deus divino era seu grande poder (o que não é o mesmo que onipotência), não sua prestação de serviços focada no cliente, seus valores familiares ou sua consideração pelos direitos humanos.

O segundo problema resulta do primeiro: que tipo de Deus é esse em quem a crença é garantida de acordo com a filosofia da religião cristã? É inútil dizer  que a crença em Deus é justificada a menos que se possa especificar quais são os supostos conteúdos das crenças acerca de Deus (e quem é este deus em quem alguém acredita basicamente). Mas esta filosofia da religião cristã é irremediavelmente solapada por seu fracasso em reconhecer o fato de que está cometendo a falácia do essencialismo. Esta falácia perpassa os problemas filosóficos colocados pelo pluralismo teológico no Antigo Testamento e as mudanças diacrônicas (leia-se: “revisões”) nas crenças acerca de Javé na história da religião israelita. Em diversos pontos de confluência em seus argumentos a filosofia da religião cristã parece beatificamente ignorante de que não existe tal coisa como a perspectiva “bíblica” sobre Deus. De modo que se é no Deus “bíblico” em quem supostamente se deve acreditar, a maioria dos teólogos do Antigo Testamento gostaria de saber “em qual de suas versões?” (ou, “em qual de suas interpretações?”).

Um terceiro problema concerne a uma outra maneira ainda em que a filosofia da religião cristã fracassa em aplicar as formas de verificação próprias do Antigo Testamento. Colocando de lado a possibilidade do pluralismo, que pode erguer sua carranca medonha mais uma vez (por exemplo, nas incomensuráveis teologias religiosas de Daniel e do Eclesiastes), o fato é que é errado assumir que o Antigo Testamento não é evidencialista. Ao contrário, existem razões significativas para acreditar que um tipo primitivo de evidencialismo seria de fato a epistemologia padrão presumida na antiga religião israelita dada a natureza de várias hipóteses pre-filosóficas nas narrativas bíblicas. De modo que pode-se dizer que toda a questão dos “milagres” (sinais) e revelações através de teofanias, audição de vozes, sonhos, adivinhações e histórias pressupõe um evidencialismo (veja a reiterada fórmula “de modo que eles possam saber…”). Os filósofos da religião irão negar que seja possível constatar a existência de Deus neste sentido empírico, e não obstante, de acordo com o Antigo Testamento, o próprio Javé admitiu esta possibilidade.

Afinal, de todas as epistemologias religiosas concebíveis, é difícil imaginar que o profeta Elias, na narrativa em que enfrenta os profetas de Baal no Monte Carmelo, estivesse endossando qualquer coisa remotamente similar às alegações da filosofia da religião cristã de que não é necessário provar nada empiricamente (veja 1 Reis 18). Se isso não é um exemplo de evidencialismo no Antigo Testamento, então o que seria? Os cristãos podem ter suas próprias razões para explicar porque estas coisas não mais acontecem e pelas quais nenhum filósofo da religião consentirá em participar de uma competição no Monte Carmelo. Mas o fato é que os filósofos da religião cristãos, sejam eles fundamentalistas e analíticos ou pós-modernos e continentais, todos adoram a racionalização dogmática mais do que a epistemologia bíblica. Mais uma vez, isto mostra que nem mesmo os filósofos da religião cristãos acreditam realmente em Javé. Eles também são ateus em relação à divindade bíblica.

A partir disso vemos por que a crença em Javé é para ambos ateus e cristãos tão impossível quando a crença em Zeus. Pode-se muito bem sugerir “apenas acredite na Bíblia!” ou em qualquer outro deus antigo. Mas poucos filósofos cristãos alguma vez se perguntaram por que é o caso que o principal desejo de um deus é que suas criaturas concordem que ele exista, dentre todas as coisas com as quais alguém poderia, em tese, se preocupar – e ainda assim fazer tão pouco para torna-la possível. Que um deus precise se ocultar e que a fé seja necessária para tornar um relacionamento possível é simplesmente uma ridícula noção não-bíblica. Moisés alegadamente tanto viu como acreditou em Javé, e eles mantiveram um relacionamento exemplar (para os padrões bíblicos). Assim, qual é o problema com a intimidade cara a cara numa base diária com cada ser humano, numa época em que o ateísmo é mais popular do que nunca? Como Voltaire disse antes de Nietzsche, a única desculpa aceitável para Deus é não existir.

Em outras palavras, foi a consciência histórica que levou os crentes a reinterpretar as crenças bíblicas para conferir-lhes um aspecto respeitável e que leva os ateus contemporâneos a ver por que ninguém pode acreditar em Javé mais do que eles acreditam em Zeus. Simplesmente não podemos imaginar que a realidade seja uma estrutura planejada em que uma entidade demasiado humana, embora superior, detém todo o poder, em que “a força diz o que é certo” – Deus pode fazer o que ele deseja porque ele é Deus, exatamente a mesma imoralidade que os religiosos imputam aos ateus – em que o sentido de sua existência é criar seres débeis, frágeis e mortais para servi-lo e dizer-lhe o quão maravilhoso ele é por toda a eternidade. A devoção religiosa é,  pura e simplesmente, a subserviência bajulatória ao poder. De qualquer maneira, não é o caso que sejamos rebeldes e não queiramos a priori acreditar em um deus; ocorre simplesmente que o conceito inteiro da realidade divina conforme construído pelos humanos no sentido bíblico é tão absurdo e tão obviamente uma projeção de humanos sinceramente iludidos que concebiam o funcionamento do cosmos análogo ao de uma sociedade humana antiga, que não seríamos capazes de realmente acreditar nem mesmo se tentássemos!

Esta é a razão pela qual a teologia e a filosofia da religião e os argumentos para a existência de Deus tornaram-se necessários – para ocultar o absurdo e conferir-lhe uma aparência convicente. Mas desde quando a realidade precisa convencer qualquer um? Se o mundo fosse realmente daquela maneira, seria tão desnecessário argumentar por sua facticidade quanto o é argumentar pela existência do mundo biológico. O apelo ao mau funcionamento epistemológico nos descrentes é tão pouco convincente quanto dizer que a razão pela qual achamos difícil acreditar em Zeus é nossa falta de intuição espiritual.

Após dois mil anos o sistema cristão cobriu quase tudo, e alguns crentes acreditam piamente que a apologética oferece respostas para tudo. Para perceber como o truque foi feito – para ver o revestimento metálico do espelho e as cordas das marionetes – basta permitir que a filosofia da religião cristã seja julgada pela história da religião israelita. O melhor argumento contra qualquer dogma cristão contemporâneo é sua própria história remontando à e se originando da própria Bíblia. As reinterpretações dos próprios cristãos nos mostram que mesmo o “crente” mais fundamentalista é realmente um ateu quando se trata de Javé, e o mais “bíblico” dos crentes não é tão bíblico quanto pensa. No fim a teologia cristã foi posta abaixo pela ética cristã; a crença foi destruída por sua própria moralidade, que exige a busca da verdade.

Angustiado estará o crente quando no fim vier a perceber que precisa escolher entre Deus e a verdade. É o tipo de experiência de “choque com a realidade” associada a filmes como Matrix ou O Show de Truman. Mas você precisa ver com seus próprios olhos para perceber como isso foi a sinuca perfeita, a dupla lealdade definitiva para qualquer pessoa crescendo numa cultura religiosa contemporânea. Infelizmente, como os próprios célebres personagens bíblicos, os crentes de hoje em dia não desperdiçam seu tempo estudando seriamente a Bíblia. Os livros mais populares sobre o Antigo Testamento são tira-gostos espirituais, guloseimas para o cérebro, se você desejar. E quando confrontados com a questão de por que os ateus se importam com a Bíblia se eles não acreditam nela, bem, talvez seja pela mesma razão que os cristãos se preocupam com os pagãos: porque as pessoas se preocupam com que outras pessoas acreditam ser a verdade e sobre o fato de que existem tantas pessoas bem-intencionadas inconscientemente propensas a iludirem tanto a si próprias como ao resto da humanidade.

Conclusão

Em certo sentido, a entidade chamada “Deus” é como um troll da Internet criado num fórum aberto ao público – uma vez que você se torna ciente do agente por trás do personagem, tal conhecimento muda tudo sobre se podemos ou não fazer com que acreditemos que “ele” existe. Não há realmente nada para refutar, e não precisamos mostrar que algum deus, seja lá qual for sua descrição, não existe. Tudo o que precisamos fazer é mostrar que as descrições de Javé não possuem nenhuma contraparte fora das fábulas bíblicas. Pois se Javé conforme retratado não é real, como poderia “Javé” em si não obstante existir? Se o deus do Antigo Testamento – que é o Deus de Jesus – não existe, como poderia o Deus do Novo Testamento ainda assim existir? E se o Deus do Novo Testamento não é real, não é este o fim das pretensões do Cristianismo à realidade?

Portanto, não é necessário nos sentirmos intimidados pelos filósofos da religião cristãos que precisam recalcar o fato de que seus sofisticados argumentos sobre um Deus supostamente respeitável ignoram a história da religião israelita. A própria biografia do deus é-lhes um constrangimento colossal. Eles próprios não mais acreditam em Javé, e hoje em dia “Deus” não passa de um ídolo idealizado, criado à imagem e semelhança das mais recentes metáforas tecnológicas projetadas sobre o cosmos. Como Javé nunca foi um deus vivo, “Deus” está, de fato, morto.

No fim, então, parece que a história da religião israelita possui um senso de ironia. O mesmo povo antigo e moderno que tão impiedosamente ridicularizou os pagãos por seus mitos e superstições fracassou em reconhecer em si próprio as mesmas predisposições supersticiosas. Os mesmos crentes que deploram os produtos da imaginação humana não são capazes de enxergar que um deus criado como um personagem numa história escrita não é menos um ídolo do que os silenciosos deuses esculpidos em pedra ou madeira.

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por Jaco Gericke

Uma terceira e última concepção absurda no Antigo Testamento já foi tangenciada no capítulo anterior: a idéia de que o cosmos inteiro seja uma monarquia e que a eterna morada divina de Javé nos céus funciona como um reino (Deut. 32:8-9; 1 Sam. 8:7; Dan. 6:27; etc.). Acredita-se que a morada de Javé seja um palácio em que a divindade  em pessoa está sentada num trono (Sal. 11:4; etc.) Um dos meios de transporte preferido pelo deus são as carruagens conduzidas por cavalos (2 Reis 2:11-12; 6:17; Zac. 6:1-8; etc.) Javé também precisa de um exército cuja arma predileta é a espada (Gen. 3:22; 32:1-2; Josué 5:13-15; 2 Sam. 24:16,27; etc.) Javé é sábio mas não onisciente e recorre a conselheiros (1 Reis 22:20-23; Isa. 6:3; Jer. 23:18; Sal. 82:1; 89:5; Jó 1:6; etc.) e serviços de inteligência que espionam as pessoas a fim de assegurar-se de sua lealdade (Jó 1-2; Zac. 3; 1 Cron. 21; etc.). O chifre de carneiro foi um instrumento musical popular nos domínios de Javé (Ex. 19:16); e os habitantes do Céu alimentam-se de pão e cobrem-se com vestes de puro linho branco (Sal. 78:25; Ez. 9:2; Dan. 10:5; etc.) Javé se dedica até mesmo a escrever em rolos de papiro (veja o “livro” [da vida] em Ex. 32:32; Sal. 69:29; 139:16; Dan. 7:10; 10:21; etc.).[19]

Para avaliar a impossibilidade deste estado de coisas, o leitor deveria dedicar algum tempo para refletir sobre a natureza historicamente transitória e culturalmente relativa de objetos como rolos de papiro, carruagens conduzidas por cavalos, espadas, trajes de linho e trompetes de chifre de carneiro. São todos artefatos demasiado humanos e efêmeros. Houve uma época no passado em que eles não existiam. Antes que tais coisas fossem usadas pelos humanos, as pessoas escreviam sobre pedra e argila; lutavam com clavas, arcos e lanças; e viajavam a pé. Então os próprios humanos batizaram ou inventaram estes objetos utilizados por Javé, e então os próprios objetos evoluíram ao longo do tempo. Algumas culturas nunca utilizaram estes objetos e jamais ouviram falar deles. Finalmente, devido ao desenvolvimento e às mudanças culturais e tecnológicas, tanto a instituição política da monarquia como vários dos artefatos utilizados por Javé caíram em desuso e hoje em dia a única fonte de interesse em sua preservação é sua antiguidade. Pouquíssimas pessoas atualmente escrevem em rolos de papiro, lutam com espadas, vestem-se com trajes de linho, sopram chifres de carneiro ou viajam em carruagens conduzidas por cavalos. No entanto, se os textos do Antigo Testamento são dignos de crédito, a realidade última é o deus de Israel que utiliza eternamente artefatos da Idade do Ferro. No palácio celestial de Javé, coisas como trompas de chifre de carneiro, rolos de pergaminho e carruagens existem desde sempre e continuarão a existir para sempre.

Este estado de coisas não deveria nos surpreender. Existe uma razão pela qual presume-se que a criação de Javé seja uma monarquia em vez de um distrito administrativo ou uma democracia. O “Deus” cristão absolutamente não é o objeto de adoração desde toda a eternidade passada mas a divindade nacional “Javé” de uma religião localmente restrita e demasiado recente na história. A mais antiga evidência do Javeísmo remonta a fé nesse deus a não mais do que 3000-3500 anos atrás. Isto explica porque “Deus”, também conhecido como Javé, age, fala e se comporta como um típico deus do fim da Idade do Bronze e do começo da Idade do Ferro e não é capaz senão de desempenhar o papel deste tipo de personagem nas histórias em que figura. Ele está aprisionado à concepção da natureza divina disponível à época com que eram construídos os papéis teatrais para a divindade. Por todas as suas idiossincrasias, Javé instintivamente age como um deus de seu tempo.

Neste ponto, constrangimentos conscientes e inconscientes derivados da natureza culturalmente construída do que se reivindica ser objetiva e eternamente apenas “verdadeiro” tem levado os apologistas à única maneira óbvia de salvar sua credibilidade: a reinterpretação. Vários teólogos contemporâneos perdem as estribeiras insistindo que toda a linguagem religiosa referente ao mundo divino e sobrenatural deve ser entendida simbolica ou metaforicamente. “Deus” foi apenas se “adaptando” (Calvino). Mas a teoria de que toda linguagem lidando com o mundo divino deve ser entendida como mítica ou metafórica de modo que os humanos sejam capazes de apreende-lo torna-se uma generalização pós-bíblica quando se concebe que seja aplicável a todos os textos do Antigo Testamento. Pois, conquanto algumas referências aos artefatos humanos utilizados por Javé sejam realmente deste tipo, um literalismo ingênuo também está presente em vários casos. Somente aqueles que não são capazes de admitirem para si próprios que não mais acreditam em Javé conforme representado na Bíblia precisam recorrer a tal reinterpretação para fazer a divindade parecer menos obviamente impossível. Os que acreditam em Deus precisam recalcar o fato de que sua divindade costumava ser Javé, cuja realidade é por inteiro tão obviamente absurda que demanda contínuas revisões para ocultar o fato de que os humanos de uma época específica imaginaram que a realidade em si funcionava como a única configuração política e cultural com que eles próprios estavam familiarizados.

Esta necessidade de reinterpretação do mundo divino em nenhuma outra circunstância é mais evidente do que na compreensão do conceito bíblico de “céu”. O crente contemporâneo insistirá que ele é algum tipo de dimensão espiritual e rirá da cara das pessoas que afirmaram não terem encontrado Deus no espaço. Mas o fato é, para os antigos israelitas e para o próprio Javé, que o céu realmente era, falando sem rodeios, um palácio divino nas camadas elevadas da atmosfera. Além disso, o conceito de “espírito” não tinha nada a ver com alguma coisa transcendente, mas no idioma hebraico denota uma substância imaterial embora natural como o vento. Não havia nenhum dualismo natural/sobrenatural ou físico/espiritual no sentido moderno – que é a razão pela qual a respiração de Javé foi identificada com o vento e porque ele pode insuflar vida no barro (Gen. 2). Que sua morada estivesse localizada no que atualmente chamamos de céu é evidente no movimento de entrada e saída do céu na narrativa bíblica. Javé desce até o Sinai (literalmente, Ex. 17-19), e Elias ascende ao Céu numa carruagem (literalmente, 2 Reis 2). Javé olha do alto dos céus para os humanos, e as pessoas olham para o Céu acima ao orarem (veja Sal. 14). A razão pela qual Javé cavalga uma nuvem ligeira (Isa. 19), pela qual o trovão é literalmente a voz divina (Jó 37), é porque ele e seus adoradores acreditavam que ele estava literalmente lá em cima. Esta é a razão pela qual Jesus supostamente despediu-se numa nuvem e retornará sobre uma – porque o Céu estava literalmente lá em cima. Crentes que acreditam que a terra é redonda e aceitam uma cosmologia moderna com um céu vazio e ainda assim não ficam chocados e desorientados com sua fé quando leem o Antigo Testamento definitivamente não o compreenderam.[20]

Para entender a idéia por trás desta cosmografia, mais uma vez pense numa sociedade humana ou na planta de qualquer metrópole moderna. A morada divina era considerada simplesmente a “área nobre” do cosmos – o palácio ou fortaleza nas colinas. A divindade vive “lá em cima” apartada dos humanos porque o sistema religioso prescreve uma segregação entre deuses e humanos – quando você é um deus, você não se mistura com a patuléia com frequência e é visto entre a plebe apenas raramente. Essa é a única razão (e nenhuma outra mais) pela qual o divino aparecia e falava com os humanos tão raramente. E quando ele descia, instalações prontas já estavam à sua espera – seu hotel sete estrelas privativo, o templo, cuja designação em hebraico é a mesma para palácio e que era a casa agradável, arejada e silenciosa de Deus onde uma vasta criadagem servia-lhe vinho, gordura animal e óleos vegetais duas vezes ao dia e o cobria de presentes (o verdadeiro motivo para os sacrifícios). A idéia do “alimento” de Javé não é incomum no texto (veja Ezeq. 44:7 e Lev.)

Em última instância, os cristão tendem a sugerir que a idéia de sacrifício humano como alimento para os deuses é uma prática pagã primitiva e completamente repulsiva. Muitos gostam de ressaltar as diferenças entre a Bíblia e outras religiões antigas no sentido de que o Antigo Testamento proibia tal prática. Entretanto, mais uma vez os aplausos são prematuros. Certamente, vários textos do Antigo Testamento rejeitam a idéia do sacrifício de crianças. Entretanto, as próprias fontes de redação anterior nas leis do Antigo Testamento  para a consagração do primogênito mostram que houve uma época em que se acreditava que Javé aprovava essa prática (Ex. 13:2; Lev. 27:28-29).[21] Sua aceitação é implicada pela história da filha de Jeftá (Juí. 11:29-40). Também encontramos vestígios desta prática na história de Abraão e Isaque (Gen. 22) em que Javé não via problemas com a cremação do corpo mesmo que ele por fim venha interromper o ato de seu servo a fim de manter sua promessa. Possivelmente mais negligenciada, contudo, é a idéia de que o sacrifício humano seja necessário e tenha sido reabilitada no Cristianismo. Aqui encontramos a significância teológica do sangue de um homem torturado e assassinado como uma oferenda pela expiação do pecado. Que os cristãos, também, sejam capazes de tornarem-se assim líricos acerca do assassinato de um ser humano (ou de um deus) mostra a repaganização do Javeísmo (que em si nunca foi puro e não possui essência distintiva alguma) e revela a facilidade com que a lavagem cerebral pode dessensibilizar alguém. Isto é claramente evidente quando os cristãos não acham nada fora de ordem quando consomem ritualmente a carne e o sangue de seu deus. A maioria das versões de Javé não aprovaria essa prática.

Outra verdade desconcertante e uma necessidade demasiado humana na psiquê de Javé é vislumbrada em seu motivo para criar os humanos. No mundo de Javé, o propósito da vida humana é sermos escravos (eufemisticamente chamados de “servos”) da divindade. Segundo um dos mitos, os humanos foram criados a fim de governar no lugar do deus de modo que ele não precise faze-lo (Gen. 1:26-28). Em outro mito, bastante incidentalmente em Gênesis 2:5, sugere-se que o propósito da vida humana seja trabalhar arduamente a terra (Ge. 1-2). Mais uma vez Javé mostra-se averso ao labor braçal e quer servos para fazer o trabalho que lhe é indigno. Não que isso sejá lá muito lisonjeiro, mas aos humanos foi concedido pelo menos o prazer de massagear o ego divino e em retribuição obter uma recompensa mínima (alimentação, um plano de saúde, segurança, etc.).

Os crentes contemporâneos definitivamente não consideraram com a devida seriedade os absurdos na concepção do cosmos como um tipo de cidade-estado governada por um monarca no céu cujos caprichos e extravagâncias tem que ser atendidos sob pena de morte presente no Antigo Testamento. Os cristãos sofreram uma lavagem cerebral tão profunda que a idéia de que os humanos são servos de um ditador cósmico ainda afigura-se reconfortante para muitos. Eles falam de uma relação pessoal com a divindade como se ele fosse um pai afetuoso, não percebendo que qualquer pai que trate seus filhos da maneira como Javé supostamente trata os seus sem dúvidas teria que ficar sob observação psicológica e provavelmente passaria o resto de sua vida numa prisão (embora possa-se reconhecer que a tortura eterna no inferno seja uma crença do Novo Testamento; o deus do Antigo Testamento não conhece tal lugar). Os que pensam que a Bíblia afirma a dignidade humana parecem não compreender que ela é completamente alheia à qualquer noção de direitos humanos. Mas porque os cristãos tem por muito tempo lido uma Bíblia reinterpretada, eles não são mais capazes de enxergar o que realmente se encontra lá. Os estudiosos críticos da Bíblia que estão simplesmente tentanto educa-los e esclarece-los sobre qual é realmente o caso no texto estão por conseguinte ironicamente correndo o risco de serem considerados “não-bíblicos”.

Tudo o que foi exposto acima, contudo, não faz sentido algum à luz da história da vida sobre a terra. O fato é que atualmente a idade estimada da terra é de aproximadamente 4,5 bilhões de ano, e se a representássemos num calendário anual, os humanos teriam entrado em cena durante o último minuto antes da meia-noite do dia 31 de dezembro. Humanóides e práticas religiosas tem estado por aí há dezenas de milhares de anos. Contudo, ainda hoje nos dizem para acreditar no que supõe-se ser o “verdadeiro Deus” embora seu personagem da Idade do Ferro (1200-500 a.C.) e sua configuração sobrenatural tenham entrado em cena tardiamente na história da religião em algum momento durante a segunda metade do segundo milênio antes de Cristo – e apenas acidentalmente espelha a cultura desta era. Lamento, mas isso é intragável. Não é mais digno de crédito do que reivindicar que qualquer outro deus com uma história discernível de origem e reconstrução míticas acidentalmente calhou de ser a realidade última. A palavra “absurdo” ainda possui algum sentido nos círculos religiosos hoje em dia?

Não somente o Javeísmo (agora em sua versão melhorada “Deusismo”) foi um retardatário na história das religiões, como também foi um assunto bastante restrito geograficamente. Javé e seus adoradores estavam confinados num espaço sagrado ao leste do Mediterrâneo. Os povos antigos por todo o globo nunca conheceram esta divindade, e nunca, de acordo como Antigo Testamento, Javé soube de suas existências (por exemplo, os ameríndios, os khoi-san da África do Sul, ou os aborígines australianos; confira a lista de nações em Gen. 10). O escândalo da peculiaridade é agravado quando se percebe que todas as preocupações e atributos de manifestação supostamente sobre-humanos de Javé parecem totalmente dependentes da região em que ele foi adorado. De acordo com o Antigo Testamento, ele vem das estepes desérticas ao Sul (a Pensínsula Arábica, veja Juí. 5; Hab. 3; Sal. 68) como um deus-redemoinho, um fetiche tribal de uma outrora horda nômade (segundo os indícios no Antigo Testamento, existe a possibilidade de ter sido cultuado primeiro pelos midianitas ou queneus). As regiões tropicais da terra desconhecem por completo a maldição de esterilidade árida que lançou sobre a criação, enquanto regiões como os Alpes riem-se da idéia de que a Terra Prometida seja  o paradigma da beleza para paisagens naturais. O fato é que a psicologia ambiental e a antropologia ecológica dos antigos israelitas explicam tão bem a natureza e as preocupações deste deus particular que é impossível até mesmo imaginar Javé sendo adorado pelos, digamos, esquimós.

Curiosamente o conceito de eternidade divina na Bíblia Hebraica nem sempre coincide com o filosófico. Em Isaías 43:10, chegamos a encontrar implícita a idéia de que Javé tem uma vida de duração limitada:

Vós sois as minhas testemunhas, diz Javé, o meu servo a quem escolhi, para que saibais, me acrediteis, e entendais que eu sou; antes de mim não se formou nenhum deus nem haverá nenhum depois de mim.

Olhe bem de perto mais uma vez e tente levar o texto mais a sério do que nunca. Ele não diz apenas que não há outros deuses. Ele introduz uma sequência temporal que, se todos os textos desejassem enfatizar que eram afirmações de natureza monoteísta, pareceria completamente desnecessária. No entanto a maioria das pessoas é capaz de ler esta passagem e nunca se incomodar em perguntar como é possível a Javé referir-se a um tempo “anterior” e “posterior” a ele durante o qual não existem outros deuses. Este texto dá a entender claramente que (a) existe um período temporal anterior à existência de Javé quando nenhum outro deus existiu, e (b) chegará um tempo posterior à existência de Javé durante o qual nenhum outro deus tampouco existirá. Naturalmente, esta idéia blasfema não faz sentido algum no contexto do monoteísmo filosófico, mas ela está lá e é perfeitamente compreensível no contexto das teogonias do Oriente Próximo antigo. Também os deuses nascem do caos e ao caos retornam, e nem mesmo o primeiro capítulo do Gênesis diz que Deus criou as trevas/águas. Sem dúvida alguma, esta alusão é basicamente a única de seu tipo na Bíblia (embora a noção de vida divina, ou nephesh, embora atenuada em textos como Exo. 31:18, sugira a possibilidade de degeneração), mas como os estudiosos tem desejado ver o “segundo” Isaías como um aprimoramento teológico, eles ignoraram os elementos mais primitivos de sua teologia.

(…conclui a seguir.)

Notas.

19. Para mais exemplos e discussões deste tipo de projeção sociomórfica no Antigo Testamento, veja Gericke, “Yahwism and Projection,” 413–15.

20. Este ponto foi magistralmente demonstrado por Babinski em “The Cosmology of the Bible.”

21. Veja Avalos, “Yahweh Is a Moral Monster,” The End Of Christianity, 226–27.

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